14 mai, 2018 - 15:53 • Olímpia Mairos
A Guarda Nacional Republicana GNR) está a sensibilizar, no âmbito da operação “Queimada Segura”, a população, sobretudo a mais idosa, para a realização de queimas e queimadas em segurança, com o objetivo de travar as ignições, a propagação dos fogos e o aumento do número de vítimas.
Esta segunda-feira, a Renascença acompanhou os militares de Vila Real, que, na freguesia de Abaças, concelho de Vila Real, procederam a uma demonstração de como efetuar uma queima de sobrantes e deram conselhos aos populares.
A operação aconteceu junto ao santuário da Senhora da Guia. O tenente-coronel João Morgado, chefe do Serviço de Proteção de Natureza e Ambiente (SEPNA) da GNR de Vila Real, começou por explicar aos populares o objetivo da iniciativa e as normas para efetuar em segurança uma queima.
Depois, num espaço amplo e de terra batida, foram colocados os sobrantes que resultaram do corte de pinheiros. Depois de separados em três pequenos montes, foi limpo e regado o terreno em volta e só depois foi ateado o fogo. A operação terminou com a extinção do fogo com recurso a água.
Segundo o tenente-coronel João Morgado, para que as queimas decorram com segurança, “é necessário cumprir todas estas regras e ter em atenção o risco de incêndio previsto para o dia, a nível de calor ou vento”.
“Quando alguém faz uma queimada deve fazer-se acompanhar por alguém e ter um telemóvel consigo”, reforça o tenente-coronel João Morgado, lembrando que “o uso do fogo na agricultura e pastorícia é ancestral, mas é preciso que as pessoas tenham uma melhor perceção relativamente ao risco de incêndio que pode resultar de uma má queima ou queimada”.
Por isso, a operação em curso da GNR tem um duplo objetivo: “Por um lado, tentar reduzir as ignições, os incêndios e, por outro, que a população tenha uma maior autoproteção para evitar mortes”.
“Apesar de ter mais de um hectare de pinheiro para limpar, tenho medo”
Joaquim Herdeiro, de 75 anos, reside na aldeia de Fontelo, Abaças. Apesar de já ter feito várias queimas ao longo da vida, manifesta receio em lançar-se na operação. “Estive aqui a ouvir, e apesar de ainda ter mais de um hectare de pinheiro para limpar, tenho medo de fazer queimas, com esta idade e com este tempo”, conta à Renascença.
Ângela Herdeiro, 70 anos, não sabia que era preciso “regar a terra em volta das sobras”. Já fez várias queimas, mas “fazia em volta das sobras um corte na terra, para o fogo não alastrar”, explica.
Esta habitante de Abaças ainda tem floresta para limpar, mas refere que já não consegue ir mais além. O marido faleceu recentemente e “os madeireiros já não querem os pinheiros”. “Vão-me ´botar’ a multa. Que ´botem’! Eu não tenho dinheiro! Que levem os pinheiros ou a mata ou, então, que me metam na cadeia, porque eu não tenho dinheiro para pagar multas”, desaba.
Manuel Joaquim Esteves, de 70 anos, escuta atentamente os conselhos da GNR, mas desfere várias críticas à atual lei de limpeza das florestas. “Isto não tem jeito nenhum e só interessa aos madeireiros. Que se limpe a vegetação toda, eu concordo; agora, cortar pinheiros, isso não”, afirma.
“Queimadas descontroladas”
Para o presidente da Junta de Freguesia de Abaças, Filipe Brigas, estas “ações de sensibilização são extremamente importantes”.
“Nestas zonas as pessoas usam muito as queimas e, por vezes, há queimadas descontroladas. As pessoas acendem e depois vão embora e, ao outro dia, ainda tem lume, e isso é muito perigoso. Aliás, já houve este ano por aqui alguns incêndios que resultaram de queimas mal feitas”, revela ao autarca.
Também o comandante da corporação da Cruz Verde, Miguel Fonseca, realça a importância da sensibilização à população, frisando que “este fator de mentalização da comunidade tem que começar desde muito cedo, nas escolas”.
Desde o início do ano, a GNR contabilizou, no distrito de Vila Real, 465 fogos florestais, 50% dos quais resultou de queimas e queimadas que se descontrolaram. Foram detidas duas pessoas em flagrante pelo crime de incêndio e identificadas mais 60. Em Vila Real, há ainda o registo de uma vítima mortal pelo fogo, número que se eleva para os seis mortos em todo o país.
As queimas são permitidas em todos os espaços rurais, fora do período crítico, desde que não se verifiquem os índices de risco temporal de incêndio de níveis muito elevado e máximo. Apesar de as queimas comportarem alguns riscos, “é importante que se queime, porque é uma das únicas formas de resolver o problema dos sobrantes agrícolas”, frisa Miguel Fonseca.
A realização de queimadas é permitida fora do período crítico, desde que o índice de risco temporal de incêndio seja inferior ao nível elevado, e exige licenciamento por parte da autarquia e a presença de técnico credenciado em fogo controlado ou, na sua ausência, de equipa de bombeiros ou de equipa de sapadores florestais.