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Só um inseto pode salvar a produção de castanhas

16 mai, 2018 - 10:05 • Olímpia Mairos

A vespa da galha está praticamente em todo o país e constitui uma séria ameaça à sustentabilidade dos soutos. Para combater a praga vão ser feitas 700 largadas de parasitas em 90 concelhos.

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O pequeno inseto Torymus Sinensis é a esperança de produtores, autarcas e técnicos para combater a praga da vespa da galha do castanheiro, ou seja o inseto 'Dryocosmus kuriphilus'.

A vespa que veio do Oriente já está em praticamente todo o país e é a maior dor de cabeça dos produtores de castanha, porque destrói a floração das galhas e invalida qualquer possibilidade de haver fruto.

No concelho de Valpaços, no distrito de Vila Real, onde a castanha é mesmo considerada o “ouro da montanha”, porque gera um volume de negócios de mais de 60 milhões de euros, “o pequeno inseto que põe os ovos nos gomos dos ramos e que leva à deformação dos novos rebentos”, começou por atingir as novas plantações, mas já se encontra em castanheiros adultos.

A luta biológica tem sido o método que se tem revelado eficaz no combate a esta praga e foi também o método adotado em Itália e em Espanha. Consiste na largada dos parasitoides `Torymus sinensis`, insetos que se alimentam das larvas que estão nas árvores e são capazes de exterminar a vespa.

Renascença numa largada de parasitas

Na freguesia de Friões, produtores, associações do setor, autarquia e o presidente da Associação Nacional da Castanha procederam à larga de parasitoides num souto de castanheiros adultos infetados.

José Gomes Laranjo, presidente da RefCast e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), tira de uma mochila os parasitas importados de Itália, acondicionados em pequenos tubos e envolvidos em gelo, retira a tampa e espera que os insetos vão saindo para as folhas do castanheiro infestado.

As largadas do Torymus sinensis são compostas por cerca de 120 fêmeas e 10 machos. Quando saem dos tubinhos, as fêmeas já vão fecundadas, pois estiveram juntas com os machos. Uma largada significa que todos os parasitoides são lançados no mesmo souto.

“Ao ser largado o parasita, a mosquinha, a galha continua fechada, porque não há vespa para sair, o parasita fica aqui dentro. No próximo inverno nós vamos ter estas galhas secas, sem furos, e é aqui dentro que está o parasita que na primavera seguinte vai abandonar as galhas secas e vai visitar as novas galhas verdes”, explica José Gomes Laranjo, presidente da Associação Nacional da Castanha (RefCast).

E é assim que o processo se faz. “Ano após ano, se processa o ciclo: o parasita, das galhas secas para as galhas verdes; a praga das galhas verdes para os gomos verdes”, realça o investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

As largadas de parasitoides obedecem a regras. Segundo José Gomes Laranjo, é preciso “esperar por um nível de infestação bastante acentuado, isto é, não basta que apareça a primeira galha e está decidido, vamos fazer largada”.

“Se vamos largar um inseto que ele próprio só vive parasitando praga, se ele não tem praga, não parasita, morre. Temos que esperar por graus de infestação nas árvores da ordem dos 60 a 70%. Só assim é que estamos em condições de fazer largadas”, enfatiza o investigador. Depois, é fundamental ter a “máxima segurança sobre aquilo que estamos a largar”.

“E temos que ter a máxima garantia do sítio onde vamos buscá-los, porque, em lugar de vir o parasita, se houver má fé, pode vir qualquer outra coisa e, então, estamos a introduzir um outro inseto que pode atacar outros insetos que estão aqui e que podem, por sua vez, provocar desequilíbrios nesses insetos e, a partir dai, cria-se uma nova praga”, alerta.

Apesar de haver muitos soutos infetados, o investigador José laranjo assegura que “a vespa não está fora do controle, o que acontece é não podemos andar à frente dela”.

Após a implementação destas medidas, das largadas de parasitoides, serão necessários três a quatro anos para que seja atingido um novo equilíbrio entre praga e parasita. “À medida que o parasita vai crescendo, a praga vai diminuindo o seu nível de ataque”, salienta José Gomes Laranjo.

A vespa dos galhos do castanheiro é um problema sério “pode envolver reduções de produção numa situação de controle na ordem dos 10 a 15% de redução de produção. Mas, se nada for feito, envolve reduções de produção em mais de 90%, como haverá algumas situações pontuais no país, onde isso irá acontecer”, alerta.

Em todo o país estão previstas 700 largadas, vão contemplar 90 concelhos, e vão custar cerca de 700 mil euros. Depois há que esperar que a pequena mosca faça um trabalho rápido e consiga contornar a praga que chegou a Portugal em 2014, vinda do Oriente.

Quebras dramáticas à vista?

Os produtores de castanha de Valpaços estão preocupados com a perda de árvores centenárias que dão centenas de quilos de castanhas. As árvores, mesmo as adultas, estão a ser afetadas pela praga da vespa do castanheiro. E os agricultores temem perder a principal fonte de rendimento.

Dinis Pereira, um dos maiores produtores de castanha da serra da Padrela tem mais de 80 hectares de castanheiro a produzir e uma unidade industrial de comercialização e transformação de castanha, teme “consequências dramáticas na sua produção e na de outros produtores”.

“A castanha, para mim, representa mais de seis milhões de euros e esta praga pode reduzir em muito o meu rendimento, conta à Renascença.

E pode reduzir a economia regional, “principalmente da zona de montanha, pode reduzir a produção em cerca de 70 a 80%, se não forem tomadas medidas rapidamente e em quantidade massiva”, prossegue o produtor, salientando que a “largada de parasitas é a única maneira de combater a praga”.

“Há outro tipo de auxiliares porque a árvore em si tem de levar mais podas radicais e melhor fertilização, que é para o inseto por ovos nas galhas que saem e ele conseguir botar crescenças, para ir dando castanha para a frente”, explica. O maior produtor da região teme que a doença conduza “ao abandono da atividade, na medida em que esta perderá rentabilidade económica”.

Laurindo Rei, de 51 anos tem cerca de mil castanheiros, e conta à Renascença que já tem “um souto cheio de galhas” e já cortou um castanheiro pela raiz. “Este ano tive uma boa produção, mas, pelo que dizem, nestes quatro a cinco anos vai diminuir muito e isso é preocupante”, desabafa.

Laurindo acredita que a vespa que entrou nos seus castanheiros “veio de Espanha e França” e atribui culpas aos “produtores que fizeram plantações novas com castanheiros importados sem certificação”.

“O barato sai caro e o pior é que afetaram muita gente”, lamenta o produtor de Friões, concluindo que “é bem melhor “semearmos a castanha e plantarmos o nosso castanheiro, em vez de importar castanheiro com praga”.

Autarquia ao lado dos produtores

A Câmara de Valpaços não tem poupado esforços para combater a praga da vespa do castanheiro e constituiu brigadas que, à semelhança dos anos anteriores, estão no terreno a percorrer os soutos para detetar a praga. “A vespa está a alargar o seu ataque e, atualmente, já se espalha por praticamente todo o concelho”, revela o vice-presidente da autarquia.

António Medeiros refere que a “castanha é o produto com mais representatividade económica no concelho, cerca de 60 milhões de euros”. “Há muito agricultor cuja economia assenta na castanha. Vamos dar esperança aos nossos agricultores e nós estamos cá para os ajudar”, assegura.

Uma das ajudas passa por “suportar economicamente tantas largadas quantas forem necessárias”, adianta o autarca, lamentando que “há agricultores que continuam a ir buscar materiais vegetativos seja onde for, desde que seja barato, e agora cá temos a praga que veio mais rápido”.

O plano nacional de combate à vespa das galhas do castanheiro prevê a realização até ao final de maio, em 90 concelhos, de 700 largadas dos parasitas que eliminam a praga que afeta a produção da castanha. O custo estimado das ações ronda os 700 mil euros.

A denominada luta biológica está a ser intensificada nesta primavera, concretizada pela Associação Portuguesa da Castanha – RefCast, com sede em Vila Real, em coordenação com a Direção-geral de Alimentação e Veterinária (DGAVE), direções regionais de agricultura do Norte, Centro e Madeira e pelos municípios onde estão a ser feitas as largadas.

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