29 mai, 2018 - 13:24 • Olímpia Mairos
A queda de chuva forte e granizo, ao final da tarde de segunda-feira, provocou “avultados prejuízos” na vila do Pinhão, concelho de Alijó. Os maiores prejuízos registam-se ao nível das vinhas, na zona entre vale de Mendiz e Vilarinho de Cotas; envolveram quedas de muros, arrastamento de terras para as estradas e obstrução da rede de saneamento básico na vila.
“Tanto trabalho tive para cuidar da vinha e tudo o granizo levou”, lamenta-se José António. Em entrevista à Renascença, o produtor de 60 anos descreve um “cenário devastador”, com “videiras no chão, varas cortadas, folhas traçadas”. Com a voz embargada pelo desalento, José António conclui que, “este ano, a vindima já está feita”.
Também Fernando Santos, de 70 anos, refere que anda a “trabalhar e a contrair dividas para, depois, vir uma coisa destas e deitar tudo por água abaixo”. E José Pinto, de 69 anos, diz que “ainda não dá para avaliar os prejuízos, porque o sol só está a começar a vir agora e o calor é que vai avaliar o resto”.
Na sua vinha de um hectare e meio, refere José, “metade das uvas foram para o chão, a produção está perdida”. “Os cachos ainda estavam pequeninos, mas havia muito e está tudo ‘esberinçado’”, refere o produtor, que também regista prejuízos com a “batata, cebolas e feijão”. “É mesmo de cortar o coração. Só quem esteve cá a ver. Foi uma hora de gelo a cair, do tamanho de grãos de milho, e deitou tudo ao chão”, lamenta o produtor.
O presidente da câmara de Alijó, José Paredes, conta que “a queda de granizo devastou grandes áreas de vinha e destruiu caminhos vicinais”. “São prejuízos graves, numa região onde a vinha é a principal cultura. A vinha estava num estado fenológico muito adiantado e com a destruição que sofreu é praticamente irrecuperável. Há vinhas cuja produção para este ano está irremediavelmente perdida”, refere o autarca.
A autarquia de Alijó, que ainda está no terreno a fazer o levantamento dos prejuízos, garante apoio aos pequenos produtores, para o tratamento imediato que é necessário fazer para a cicatrização das videiras.
“Estaremos ao lado dos pequenos produtores para custear o primeiro tratamento curativo que é obrigatório”, garante o autarca, manifestando disponibilidade também para ajudar “na recuperação e a reabilitação de caminhos, para que as pessoas possam circular e aceder às suas propriedades”.
A chuva e o granizo provocaram também inundações, deslizamentos de terra e derrocadas que afetaram habitações e estabelecimentos comerciais na vila duriense.
Pedro Silva, proprietário de um café na avenida principal do Pinhão, viu o seu estabelecimento inundado pela água. Ainda não fez contas aos prejuízos, porque “ainda é tempo de limpar”, mas assume que vão ser “avultados”. “No tempo ninguém manda, mas esta vila tem um saneamento pré-histórico”, queixa-se.
Intervenções já planeadas
Há cerca de dois anos, o Pinhão já tinha sido atingido por uma intempérie que provocou graves prejuízos na zona central da vila turística.
Numa nota enviada à imprensa esta terça-feira, a Junta de Freguesia da vila refere que, "felizmente, não há danos pessoais a considerar", mas ressalta que "há diversos prejuízos em estabelecimentos comerciais que se situam na Rua António Manuel Saraiva e danos muito avultados nas vinhas envolventes à vinha".
No comunicado, a junta avança que, a par de uma intervenção nessa rua, "estamos também a propor o aumento do número de sumidouros sobretudo na zona da estação ferroviária", uma "solução temporária até as obras de requalificação desta rua avancem" mas que poderá "minimizar impactos de situações como a de ontem".
As intervenções propostas estão orçamentadas em entre 50 mil e 60 mil euros, "uma verba que esta Junta de Freguesia não tem capacidade de garantir a curto prazo".