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Hospitais. "Continuamos a ter nomeações demasiado politizadas"

19 jun, 2018 - 11:50

O presidente da Associação dos Administradores Hospitalares reagiu ao relatório do Observatório dos Sistemas de Saúde na Manhã da Renascença. Ordem dos Médicos diz que o estudo só veio demonstrar o que os parceiros do setor têm dito.

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Alexandre Lourenço, presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, lamenta que muitos dos gestores destas unidades de saúde sejam nomeados pelas suas ligações à política.

“Continuamos a ter – e este relatório alerta bem para isso – nomeações para os conselhos de administração demasiado politizadas e essencialmente baseadas em confiança política, quando deveriam ser por meritocracia e escolhermos os mais competentes”, defende na Manhã da Renascença.

Na reação ao relatório da Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), o representante dos administradores hospitalares confirma que as dificuldades financeiras nos hospitais se agravaram nos últimos anos.

“Tem existido alguma deterioração do comportamento económico-financeiro devido à restrição de tesouraria e também às políticas de gestão orçamental do Ministério das Finanças”, aponta.

“Apesar de existir volumes de financiamento para pagar a grandes fornecedores, tem existido uma limitação na gestão diária dos hospitais” que se estende também “ao nível do investimento”, onde “continuam a existir francamente grandes dificuldades para os hospitais em renovar equipamento”, acrescenta.

Os prejudicados são os utentes e os próprios médicos: “na prática, existem menores condições para prestar cuidados de saúde de qualidade, exigindo-se também aos profissionais um maior esforço”.

O relatório conhecido esta terça-feira constata que os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) continuam marcados pela crise económica, com falta de liquidez e dívida a fornecedores a crescer no seu dia a dia.

O documento indica ainda que se desconhece o número de profissionais de saúde efetivamente a trabalhar, o que ameaça "qualquer definição política de prioridades de recursos humanos".

Nesta matéria, o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares diz que foram feitas contratações, mas a redução do horário de trabalho das 40 para as 35 horas semanais não ajudou.

“Apesar de ter acontecido um crescimento da contratação de profissionais – na prática, o SNS tem mais oito mil profissionais do que em 2015 – a passagem das 40 para as 35 horas teve um impacto na redução da disponibilidade de trabalho. No limite, nós teríamos mais disponibilidade de recursos em 2015 do que em 2017”, explica Alexandre Lourenço.

Nós avisámos, diz Ordem dos Médicos

O bastonário da Ordem dos Médicos considera que o Relatório de Primavera 2018 veio apenas demonstrar o que tem sido referido pelos parceiros do setor sobre a falta de investimento.

"Os hospitais têm um problema muito grande ainda não resolvido. Diz o relatório que estão à beira de um ataque de nervos e é verdade: estão suborçamentados e é verdade", afirma Miguel Guimarães, exemplificando: "Hoje, uma direção num hospital sabe que vai ter dinheiro para pagar aos recursos humanos até ao fim do ano, mas sabe que, à partida, não vai ter dinheiro a partir de determinado mês (junho/julho) de pagar os medicamentos".

"Isto, fora todas as outras coisas”, continua, para exemplificar: “não têm capacidade para renovar equipamento, não têm capacidade para fazer contratações nem para ter flexibilidade na gestão. Estão completamente aprisionados pelas ARS [administrações regionais de saúde], as ARS estão aprisionadas pelo Ministério da Saúde e o Ministério da Saúde está totalmente aprisionado pelo Ministério das Finanças".

O bastonário considera que a situação é “grave e que não permite aos hospitais como um todo darem a resposta adequada às necessidades que os doentes têm e à variabilidade que pode acontecer na capacidade de resposta”.

“Quanto mais longe do poder central mais este efeito se nota”, refere ainda.

Quanto às nomeações dos conselhos de administração dos hospitais continuarem a ser políticas e com a falta de uma reforma hospitalar efetiva, Miguel Guimarães lembra que "a avaliação do desempenho do que é a atividade dos hospitais nunca chegou a avançar". E recorda que o grupo criado para o efeito, mas que nunca apresentou resultados.

"Se a reforma dos Cuidados de Saúde primários ficou congelada, a reforma hospitalar nunca chegou a avançar (...). Não há perspetivas, não há uma ideia nova, não há discussão e isto tem de mudar", acrescenta.

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