05 jul, 2018 - 07:08
O projeto-piloto que permite aos doentes com VIH fazer os tratamentos em farmácias mais próximas de si já abrange 100 pessoas, mas o Infarmed admite alargar o acesso à medicação a todo o país.
A hipótese foi avançada à Renascença por Sofia Oliveira Martins, do conselho diretivo do Autoridade Nacional do Medicamento. “A infeção por VIH tornou-se uma doença crónica. As pessoas vão envelhecendo e ficando com menos mobilidade, fazendo sentido não terem de se deslocar aos hospitais para levantar a sua medição. A ideia deste projeto-piloto é que venha a ser alargado a todo o território e a todos os doentes que assim o pretendam”, justifica.
A mesma responsável lembra que este projeto durará no máximo 12 meses e que no fim de 2018 há nova avaliação.
Foi criado para garantir que as pessoas não interrompiam a medicação, o que por vezes acontece, principalmente entre os utentes com mais dificuldades económicas, que por vezes deixam de se deslocar à farmácia hospitalar.
À agência Lusa, o secretário de Estado da Saúde revelou que esta medida, que ainda está a ser testada apenas em Lisboa, veio permitir aos utentes escolher se queriam continuar a receber os tratamentos no hospital ou numa farmácia próxima de casa ou do trabalho. Mas antes de alargar a todo o país será necessário avançar com a formação de mais farmacêuticos para garantir que o alargamento do projeto é feito com toda a segurança, observou Fernando Araújo.
Resultados positivos
O governante disse que optar por uma farmácia comunitária "é tão eficaz como fazer (o tratamento) no hospital" e, por isso, o Ministério da Saúde está empenhado em "continuar este percurso e alargar a todo o país".
"Queremos iniciar nos grandes hospitais, no norte e no centro, e depois disseminar no resto do país", revelou, acrescentando que no último trimestre será alargado a outras regiões do país.
Esta é mais uma medida que poderá aumentar a percentagem de doentes em tratamento.
Atualmente, mais de 90% das pessoas com VIH estão diagnosticadas e mais de 90% das que estão em tratamento já não transmitem a infeção, segundo dados avançados à Lusa pelo secretário de Estado.
Portugal tinha até 2020 para conseguir atingir aqueles dois objetivos definidos pelo programa das Nações Unidas para o VIH/sida (ONUSIDA), que define ainda um outro objetivo: ter 90% dos doentes diagnosticados em tratamento.
Os últimos dados disponíveis, relativos a 2016, indicam que 87% dos doentes diagnosticados estão em tratamento.
Testes feitos em casa
Os portugueses vão poder fazer em casa testes de despiste do VIH, anunciou o secretário de Estado da Saúde, que espera que esta opção seja uma realidade ainda este ano.
"Vamos mudar a lei para que, até ao final do ano, os portugueses que quiserem possam comprar o teste na farmácia e fazer em casa", afirmou Fernando Araujo.
No caso de os testes serem positivos, os doentes podem marcar uma consulta num hospital "para repetirem o teste e serem reorientados", acrescentou.
Com esta iniciativa o Ministério da Saúde espera conseguir reduzir os casos de deteção tardia de pessoas infetadas com sida.
Segundo Fernando Araujo, quem opta por este sistema são pessoas que não recorrem a outros serviços de saúde e os países onde esta possibilidade já existe revelam que a medida é um sucesso. "Em geral, impede novas transmissões. As pessoas ao saberem que estão infetadas tendem a proteger-se para evitar a disseminação", acrescentou, sublinhando que esta será apenas mais uma alternativa às já existentes.
Diagnosticar cada vez mais cedo para evitar novos contágios é um dos desafios da tutela que reconhece que em Portugal há uma "elevada taxa" de diagnósticos tardios, acrescentou.