14 jul, 2018 - 00:42
Ainda há explosivos furtados no quartel de Tancos, em Santarém, que não foram recuperados pelas autoridades, avança a edição deste sábado do jornal “Expresso”.
O Ministério Público (MP) contraria o Exército e garante que ainda há material militar desaparecido, adianta o semanário.
Os explosivos representam “perigo para a segurança interna”, adianta o Ministério Público, uma vez que há armas suficientes para um atentado.
Seis pessoas suspeitas de envolvimento no assalto que abalou uma das instituições mais importantes e prestigiadas do país estão a ser vigiadas, escreve o "Expresso".
A notícia agora conhecida contraria a versão dos militares. O chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, revelou em outubro do ano passado que apareceu uma caixa de petardos a mais na relação do material furtado nos paióis de Tancos recuperado na altura pela Polícia Judiciária Militar.
Questionado pela Renascença, o gabinete do Ministério da Defesa recusa comentar o caso, uma vez que o processo está sob segredo de justiça. O Estado-Maior do Exército também se remete ao silêncio, recusando comentar uma investigação em curso.
Marcelo exige "esclarecimento cabal"
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que no passado disse ter "memória de elefante" e que não iria esquecer o caso, já reagiu à notícia.
Em comunicado divulgado no site da Presidência, o chefe de Estado “reafirma, de modo ainda mais incisivo e preocupado, a exigência de esclarecimento cabal do ocorrido com armamento em Tancos”.
“E tem a certeza de que nenhuma questão envolvendo a conduta de entidades policiais encarregadas da investigação criminal, sob a direção do Ministério Público, poderá prejudicar o conhecimento, pelos Portugueses, dos resultados dessa investigação. Que o mesmo é dizer o apuramento dos factos e a eventual decorrente responsabilização”, conclui a nota do Presidente da República.
Azeredo Lopes vai ser ouvido no Parlamento
O ministro da Defesa vai na próxima terça-feira à Comissão Parlamentar de Defesa prestar esclarecimentos aos deputados sobre a cimeira da NATO, mas o tema "Tancos" será abordado.
O CDS-PP já prometeu questionar Azeredo Lopes sobre o assunto. O deputado centrista João Rebelo diz à Renascença que é "grave" o ministro e o Exército terem dado informações erradas ao Parlamento.
No entanto, o Ministério da Defesa afirma que não irá comentar o tema.
O PSD exige esclarecimentos urgentes sobre a existência de material militar furtado de Tancos ainda por localizar e promete confrontar, na terça-feira, o ministro da Defesa com este assunto.
Numa nota na sua página na rede social Facebook, o líder parlamentar Fernando Negrão considera "inacreditável" que ainda existam armas e explosivos por encontrar do material militar furtado há um ano do quartel de Tancos (Santarém).
"Está em causa a segurança nacional. O roubo aconteceu em instalações das Forças Armadas, a investigação foi feita pela Polícia Judiciária Militar e o resultado é a total falta de transparência", criticou Fernando Negrão.
O PCP pede esclarecimentos sobre todo o caso de Tancos, nomeadamente no âmbito do inquérito do Ministério Público, e só tomará posição sobre uma eventual comissão parlamentar de inquérito perante uma proposta concreta.
"Todas as questões relativas à ocorrência de Tancos devem ser esclarecidas, nomeadamente no âmbito do inquérito do Ministério Público. Quanto à eventualidade de um inquérito parlamentar, o PCP decidirá na base de alguma proposta concreta que seja apresentada", refere uma posição do partido enviada à Lusa, depois de questionado sobre esta matéria.
Assalto Tancos foi há um ano
"No limite, pode não ter havido furto nenhum" em Tancos. A hipótese admitida pelo ministro da Defesa, Azeredo Lopes, acabou por ser contrariada pela realidade.
As armas de guerra foram levadas dos paióis, num assalto detetado a 28 de junho do ano passado.
O episódio colocou a nu falhas de segurança numa instalação militar sem videovigilância, uma vedação ferrugenta e com poucas rondas.
Os meses passavam e nem rasto das armas. Até que, em outubro, uma denúncia anónima revelou que estavam escondidas ali perto, a 20 quilómetros de Tancos, numa herdade da Chamusca.
Foi recuperado todo o material furtado e ainda mais uma caixa que não estava na lista inicial.
As armas foram encontradas, mas ninguém foi detido. Agora, sabe-se que poderão haver explosivos à solta.
[atualizado às 17h28]