17 jul, 2018 - 18:55
O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) acusou esta terça-feira a companhia aérea Ryanair de "coagir" tripulantes em Portugal, Itália, Espanha e Bélgica ao querer saber se participam na greve do final do mês.
"Os tripulantes nos quatro países em que foi feito o pré-aviso de greve estão a receber um e-mail com um inquérito para fazerem online para a Ryanair ficar a saber se fazem greve ou não", denunciou, em declarações à agência Lusa, a presidente do SNPVAC, Luciana Passo.
Com o questionário na internet, a empresa "quer prever uma operação [para os dias 25 e 26 de julho] e saber quem faz greve ou deixa de fazer, o que é ilegal, e quer coagir os tripulantes, ficando com registo de quem responde ou não, o que também não me parece muito curial", afirmou a responsável.
Em causa está a greve de 24 horas em Portugal, Itália, Espanha e Bélgica no próximo dia 25 de julho e em Portugal, Espanha e Bélgica, no dia 26.
De acordo com Luciana Passo, o inquérito agora conhecido "é ilegal, é uma forma de coagir os tripulantes, e eles não têm nada de responder".
No questionário online, a Ryanair sustenta que "esta paralisação para os clientes, durante o tempo de férias, é completamente desnecessária", e pede aos tripulantes que, com vista a "minimizar os impactos", digam "atempadamente quem vai comparecer ao trabalho naquelas datas", segundo informação a que a Lusa teve acesso.
Solicitando uma resposta até quarta-feira, a companhia aérea ressalva que "não há qualquer obrigação" para os tripulantes portugueses – assim como os dos outros países – fazerem greve, já que "podem sempre ir trabalhar, se assim o desejarem".
Segundo a presidente do SNPVAC, esta "é mais uma manobra" da Ryanair, mesmo sabendo que "o direito a fazer greve existe".
Luciana Passo admitiu que a "decisão conjunta" tomada pelos quatro países vai causar "transtornos enormes, gravíssimos e escusados a quem não tem culpa nenhuma", isto é, os passageiros, mas disse ser a solução encontrada perante as recusas da Ryanair em aceitar as exigências do pessoal de cabine.
A paralisação foi convocada pelos sindicatos SNPVAC, UILTRASPORTI/FILT - CGIL (Itália), SITCPLA (Espanha), USO (Espanha) e CNE-LBC (Bélgica).
"Os sindicatos pediram três coisas: que a Ryanair aplicasse a lei do país onde está, como está consignado no regulamento da União Europeia, que reconhecesse os representantes do sindicato como interlocutores básicos e que aplicasse a todos os trabalhadores que operam nos seus aviões, incluindo os que são de outras companhias como a Crewlink ou a Workforce, os mesmos termos e condições de trabalho", precisou a responsável.
Contudo, "mesmo que estes não sejam pedidos assim tão extraordinários, a Ryanair [...] disse que não podemos avançar", aludindo à justificação de que só negoceia com "delegados sindicais que trabalhem na empresa", lamentou.
A agência Lusa pediu esclarecimentos à Ryanair e aguarda resposta.
A companhia irlandesa tem estado envolvida numa polémica desde a greve dos tripulantes de cabine de bases portuguesas por ter recorrido a trabalhadores de outras bases para minimizar o impacto da paralisação, que durou três dias, no início de abril.
As alegadas substituições ilegais levaram à intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), entidade que "já está alertada" para a greve do final deste mês de julho, adiantou Luciana Passo.