15 ago, 2018 - 16:15
O Bloco de Esquerda saúda a decisão da Web Summit de retirar o convite à líder francesa de extrema-direita, Marine Le Pen, defendendo que seria importante uma posição do Governo e da Câmara Municipal de Lisboa.
"É a decisão mais acertada, também considerando as pressões que foram feitas e a própria pressão social que existiu relativamente ao convite que tinha sido feito à Marine Le Pen" para participar na Web Summit, disse à agência Lusa a deputada e dirigente do BE Isabel Pires.
No entanto, "apesar de saudarmos esta decisão, a única incógnita que se mantém é de facto [que] o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa não tiveram uma única palavra sobre o assunto e isso lamentamos", acrescentou.
Para Isabel Pires, "seria importante haver uma tomada de posição considerando que existem dinheiros públicos nesta organização".
A declaração do organizador retirando o convite a Marine Le Pen "denota que assumiram o erro e não tinham talvez noção da importância que teria este convite", referiu ainda a deputada do Bloco de Esquerda.
SOS Racismo congratula-se com decisão de retirar convite a Le Pen
A associação SOS Racismo congratulou-se com a decisão de ser retirado o convite à líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, para participar na Web Summit, em Lisboa, considerando que ganha a democracia e ganham todos.
"É a decisão que se impõe, veio 'tarde e a más horas', aliás, o convite nem devia ter acontecido", mas "ainda bem que foi desconvidada porque assim ganha a democracia e ganhamos todos nós", disse à agência Lusa Mamadou Ba, da direção da SOS Racismo.
O presidente executivo da Web Summit, o irlandês Paddy Cosgrave, anunciou, no Twitter, que decidiu retirar o convite a Marine Le Pen para estar presente este na iniciativa, que vai realizar-se em Lisboa, em novembro, pela terceira vez.
O convite para Marine Le Pen estar em Portugal a participar no evento tecnológico originou uma polémica, com a SOS Racismo a exigir, na segunda-feira, que as entidades ligadas à organização da Web Summit tomassem uma posição pública, seguida por posição semelhante do Bloco de Esquerda, na terça-feira.
Cosgrave reagiu num primeiro momento explicando a decisão e afirmando que se o Governo português pedisse, aceitaria retirar o convite.
Já hoje, o Ministério da Economia anunciou em comunicado que não tem intervenção na "seleção de oradores" do Web Summit e que valoriza a sua realização em Portugal.
"Todo este jogo de empurra entre a organização e o próprio Governo era dispensável, uma vez que não podemos permitir que o erário público seja utilizado para legitimar um discurso racista e fascista que é o discurso de Marine Le Pen", defendeu hoje Mamadou Ba.
Tendo em conta "tudo o que sabemos, inclusive informações vindas a público recentemente de que o próprio Estado estaria muito preocupado com a reorganização da extrema-direita no nosso país, seria absolutamente inacreditável que se permitisse que viesse [a Portugal] uma das figuras mais importantes da extrema-direita para legitimar essa reorganização", salientou.
"Sabemos que a nossa Constituição proíbe a existência de organizações que professam a ideologia racista, fascista e nazi que professa [o partido de] Marine Le Pen", acrescentou ainda a SOS Racismo.
Numa série de 'tweets', Paddy Cosgrave explicou que a sua equipa, "com base nos conselhos" que recebeu e "na ampla reação 'online' ao longo da noite", concluiu que a presença de Le Pen "é desrespeitosa em particular para o país anfitrião" e "para alguns entre as dezenas de milhares de participantes" de todo o mundo que acorrem ao evento tecnológico e de inovação.
Cosgrave frisou que "a questão do ódio, liberdade de expressão e plataformas tecnológicas é decisiva em 2018", pelo que a Web Summit "vai redobrar esforços para abordar esta difícil questão com mais cuidado".