10 set, 2018 - 12:04
O primeiro-ministro considera que o Governo já fez aquilo lhe que competia face ao caso do furto de armas na base militar de Tancos e entende que estaria a desrespeitar a autonomia do Ministério Público se pressionasse a investigação criminal.
António Costa falava aos jornalistas após ter inaugurado a nova sede da multinacional norte-americana Johnson & Johnson, no Lagoas Park, em Oeiras.
No domingo, em Castelo Vide, Portalegre o presidente do PSD, Rui Rio, afirmou que o país tem de exigir ao Ministério Público que rapidamente faça a "acusação correta" no caso de Tancos, considerando o Governo "incapaz de dar mais respostas" sobre o caso.
Perante os jornalistas, Costa demarcou-se desta posição, alegando que é preciso respeitar a autonomia da investigação a cargo do Ministério Público e defendendo a atuação do seu executivo em relação a este caso do verão do ano passado.
"No que diz respeito a Tancos, o Governo já fez aquilo que tinha a fazer, que era verificar se havia ou não uma ameaça à segurança. Nas 48 horas imediatamente seguintes foi possível reunir a Unidade de Combate ao Terrorismo e a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna [Helena Fazenda] deu garantias de que não havia qualquer risco para a segurança interna do país", respondeu.
Novos armazéns e mais segurança
Ainda de acordo com António Costa, na sequência do roubo de material militar na base de Tancos, o seu Executivo fez "um trabalho de fundo muito importante: A recolocação de todas as munições e armamento que se encontrava em Tancos em novos armazéns securizados".
"Essa operação foi feita com grande eficiência pelo Exército, com a cooperação também em particular da Marinha. Neste momento, temos novos paios completamente securizados, de forma a não haver riscos em relação ao material depositado", justificou.
A seguir, o primeiro-ministro falou sobre a vertente da investigação criminal resultante deste roubo, sustentando que essa dimensão transcende completamente o Governo. "Não vejo nenhuma razão para que não haja confiança no Ministério Público no sentido de que faça no melhor prazo possível a investigação que lhe compete fazer. Seria desrespeitador da autonomia própria do Ministério Público estar a comentar se o Ministério Público deve andar depressa, se tem andado devagar, se pode fazer mais, se pode fazer menos. Isso só o Ministério Público pode esclarecer", alegou o líder do executivo.
O furto de material militar dos paióis de Tancos - instalação entretanto desativada - foi detetado em 28 de junho de 2017 durante uma ronda móvel. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e grande quantidade de munições.
Em 18 de outubro passado, a Polícia Judiciária Militar recuperou, na zona da Chamusca, quase todo o material militar que tinha sido furtado da base de Tancos no final de junho, à exceção das munições de 9 milímetros.
Contudo, entre o material encontrado, num campo aberto na Chamusca, num local a 21 quilómetros da base de Tancos, havia uma caixa com cem explosivos pequenos, de 200 gramas, que não constava da relação inicial do que tinha sido roubado, o que foi desvalorizado pelo Exército e atribuído a falhas no inventário.
Citando partes de acórdãos do Ministério Público relativos à investigação judicial ao furto de Tancos, o jornal Expresso referia, em 14 de julho, que, além das munições de 9 milímetros, há mais material em falta entre o que foi recuperado na Chamusca, como granadas de gás lacrimogéneo, uma granada de mão ofensiva, e cargas lineares de corte.