08 out, 2018 - 15:16
"Falta de senso e falta de gosto". Marcelo classificou assim esta segunda-feira a atitude do governo de Cavaco Silva que, em 1992, vetou a candidatura de um livro de José Saramago ao Prémio Literário Europeu.
Marcelo Rebelo de Sousa lançou mais uma farpa ao antigo Presidente da República e antigo primeiro-ministro na abertura da conferência que comemora os 20 anos do Prémio Nobel ao escritor português, em Coimbra. A obra em questão de Saramago, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", foi publicada em 1991 e, na altura, foi o subsecretário de Estado da Cultura do governo de Cavaco, António Sousa Lara, a vetar a candidatura.
Na conferência desta segunda-feira, Marcelo, ao lado de Pilar Del Río, companheira do escritor e presidente da fundação José Saramago, falou sobre o dia 8 de outubro de 1998, dia em que o escritor foi anunciado como o primeiro português a vencer o maior prémio da literatura mundial. "Cruzámo-nos naquele dia de outubro de 1998, sendo eu líder de um partido [o PSD], cujo Governo tinha sido motivo invocado para que José Saramago zarpasse de terras de Portugal para ilhas espanholas", relembra Marcelo, afirmando que a decisão do governo de Cavaco Silva foi o empurrão para Saramago emigrar.
O Presidente da República contou também como fez as pazes, pelo seu partido, com Saramago, precisamente no dia em que o escritor ganhou o Nobel, seis anos depois do veto do governo de Cavaco ao "Evangelo Segundo Jesus Cristo". "Nesse dia (...) atravessei uma praça madrilena para ir dar um abraço a José Saramago, pondo assim fim àquilo que era uma falta de senso e falta de gosto ao mesmo tempo, em termos de vivência na sociedade portuguesa", contou Marcelo Rebelo de Sousa.
A conferência, que celebra o 20º aniversário da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Saramago, realiza-se em Coimbra até quarta-feira.
A 26 de setembro, Marcelo e Cavaco trocaram palavras. Primeiro, Cavaco Silva comentou a não-recondução de Joana Marques Vidal na Procuradoria-Geral da República como "a mais estranha tomada no mandato do Governo". No dia seguinte, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu, acusando Cavaco de falta de "cortesia" e "sentido de Estado". No dia 29, na inauguração do novo campus da Nova SBE, Cavaco Silva saiu do local antes do discurso de Marcelo, invocado "uma festa familiar".