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IRA. Há risco de haver cada vez mais "justiça pelas próprias mãos"?

16 nov, 2018 - 18:24 • João Carlos Malta

Grupo de ativistas de proteção dos animais argumenta que as autoridades não atuam e que há que agir. À Renascença, um ex-ministro da Administração Interna e um dirigente sindical da PSP destacam desconfiança latente dos portugueses nas instituições.

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A reportagem da TVI sobre o IRA, Intervenção e Resgate Animal, mostra um grupo de cidadãos que se junta para combater o que classificam de crimes contra os animais. Para isso, usam todos os meios necessários. O motivo que justifica a ação, argumentam, é a inação das autoridades e isso, do seu ponto-de-vista, legitima os seus atos, mesmo os que possam ser violentos.

Na reportagem televisiva, ouve-se uma das ativistas dizer: “Era excelente que as entidades competentes dessem o exemplo. Só no caso de tudo falhar é que o IRA entra.”

Ao Observador, em 2017, o fundador do grupo explicava uma das ações do IRA da seguinte forma: “O que vamos fazer hoje é um sequestro de um animal. Se chegarmos lá e o dono tiver dado sumiço ao animal, poderemos fazer um sequestro do dono até ele nos contar onde está o animal. Não somos a PSP, não somos o SEPNA [Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente], não somos a GNR nem a Câmara Municipal de Lisboa — as nossas ações justificam os fins que pretendemos: o bem-estar animal. Um país onde existe todo o tipo de menosprezo pelos direitos dos animais não merece nada menos do que um grupo com este tipo de atitude.”

A Polícia Judiciária, segundo o Público, está agora a investigar a organização por suspeita de crimes de terrorismo.

Após a reportagem televisiva que criou polémica − também devido à ligação da chefe de gabinete do PAN, Cristina Rodrigues, a esta organização − multiplicaram-se as mensagens de incentivo dos internautas à forma como o grupo atua na página de Facebook do IRA.

“Sabem qual é o vosso problema??? É que vocês, além de atuarem e resolverem os problemas, vocês têm tomates.... É isso que está a incomodar muita gente”, lê-se numa das publicações em que o grupo tenta desmontar as alegadas falsidades da reportagem da estação de Queluz.

Descrédito e desconfiança

O que legitima este tipo de ações, entre os defensores, é a falta de intervenção das autoridades policiais, e o presidente da ASPP (Associação Sindical dos Profissionais), Paulo Rodrigues, diz que a partir deste caso não se pode dizer que haja o risco de aparecimento reiterado de milícias populares para resolver problemas. Mas alerta que “há o perigo de que as coisas se descontrolem”.

“Quando vemos alguns cidadãos a dizer que chamaram a polícia e que esta demorou cinco horas, isso alimenta um sentimento de descrédito e desconfiança em relação às forças policiais”, destaca à Renascença.

“Nesta onda, é natural que se criem pequenos grupos que fazem o que a polícia devia fazer e não faz”, acrescenta Paulo Rodrigues, enfatizando contudo que não é a fomentar organizações deste género que se resolvem os problemas.

“Criam-se outros problemas. É melhor pressionar as entidades competentes a fazerem o seu trabalho do que fazerem algo que pode sair caro a todos nós.”

Faltam meios

Paulo Rodrigues afirma que há uma falta crónica de meios nas forças de segurança e que os sindicatos têm tentado chamar o “Governo à razão”.

O mesmo responsável defende que estes casos acontecem porque, de facto, as forças de segurança não têm meios para atuar, e isso “leva a que alguns grupos o queiram fazer para superar a situação”.

“É um problema que temos identificado”, garante.

Por fim, lamenta que, “pelos vistos, só os polícias estão preocupados com esta situação”.

“São pequenos sinais que refletem sentimentos que podem sair caros à sociedade portuguesa. Foi assim que as coisas começaram noutros países”, remata.

Não é nada novo, mas é diferente

Noutros casos recentes, o deslaçamento entre as instituições e os cidadãos também ficou evidente. No rescaldo dos incêndios de Pedrógão Grande, por exemplo, vários grupos de pessoas, desconfiando da ação das instituições de solidariedade social, foram para o terreno para entregarem pessoalmente bens de apoio às vítimas.

Outro caso: no rescaldo de uma onda de centenas de furtos de quatro rodas a carros, nos últimos cinco meses, na zona de Lisboa, houve grupos de moradores nas redes sociais que, em múltiplos comentários, apelavam à necessidade de agirem e criarem grupos para afastar os ladrões dada a inação da polícia.

À Renascença, o ex-ministro da Administração Interna Rui Pereira não considera que a desconfiança em relação às instituições esteja a aumentar. “Não creio que a tendência para fazer justiça pelas próprias mãos seja mais vincada do que há alguns anos”, diz o ex-governante, dando exemplos de grupos terroristas das décadas de 1960 e de 1970, como as FP-25.

“Hoje essa tendência abandonou as grandes narrativas para se dedicar às causas fraturantes”, reflete, afirmando que não é aceitável que se ataquem pessoas ao abrigo da defesa dos animais.

O ex-governante não considera o caso do IRA episódico, mas classifica-o como “marginal”.

“Não são a tendência mais evidente, e espero que não venha a representar a forma mais típica de assumir estas causas”, remata.

Comentários
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  • Andreia Galhardo
    09 dez, 2023 Lisboa 22:15
    https://www.setentaequatro.pt/enfoque/quando-o-estado-legitima-os-vigilantes-animalistas-do-ira
  • Sara
    19 nov, 2018 Lisbos 18:49
    A sra Maria Leal, aí desculpem Ana Leal tem que validar as notícias e histórias que cria, ainda há pessoa normais neste país. Acho que deviam rever todas as reportagens que está sra fez, não vai estar ela ligada a alguma força política. Tenha vergonha e vá pedir desculpa.
  • sofia
    19 nov, 2018 11:40
    O que é que SALVAR um animal de morrer à fome ou de doença por negligência dos donos tem a ver com sem-abrigos? Voce quando come deixa de respirar? ou consegue satisfazer várias necessidades BÁSICAS ao mesmo tempo? Um animal sente dor, fome e sede, sabia? E é muito mais vulnerável do que a maioria dos sem-abrigos, que tem vontade própria e apoios institucionais e de caridade a quem recorrer. Felizmente que há pessoas que ajudam seres verdadeiramente vulneráveis e sem voz nem voto. Tristeza é ver a ignorância e mesquinhez em algumas pessoas quando se fala em ajudar animais.
  • Filipe
    17 nov, 2018 évora 19:26
    Pensava que este movimento era para retirarem os sem abrigo e os pobres sem teto das ruas de Portugal , não existe ainda ? Porque razão um animal selvagem mal cheiroso sem tomar banho cheio de parasitas intestinais entra num restaurante onde um bebé recém nascido pode gatenhar e um pobre mal vestido pode ser impedido de entrar ? Tenham mas é vergonha , se os apanhasse queriam ver o que era bofetear essas caras sem máscaras , gente covarde . Até porque andam a descriminar os animais ou será que não comem bifes , galinha , frango ... que raio dos gatos e cães serem agora ser supremos , são irracionais e como animais selvagens devem ser tratados , selvagens ! ; Ponto final .
  • Milicias populares
    17 nov, 2018 País 11:22
    Quando as autoridades falham, há a tentação das populações resolverem a situação por elas próprias. E com 2 Milhões de armas não registadas nem legalizadas a andar à solta por aí...
  • As vezes é o melhor
    17 nov, 2018 Gaia 11:18
    No meu prédio havia vizinhos barulhentos com festarolas até as 4 h da manhã. 6 ou 7 vezes foi chamada a policia sem sucesso - das ultimas 2 nem abriram a porta e continuaram com o barulho. Um dia, deram com a porta de casa arrombada, e a aparelhagem desfeita à martelada, tudo o mais intacto. De há 3 meses para cá, nem a TV deles se ouve ...
  • Eduardo
    17 nov, 2018 Faro 01:55
    Claques de futebol, extrema direita, gangues de motociclismo...sempre a mesma seita ao barulho. Que tal acabar com tudo?

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