22 nov, 2018 - 17:35
O Hospital de São João, no Porto, admitiu esta quinta-feira que pode vir a transferir o internamento de crianças, que é atualmente feito em contentores, para espaços do edifício principal.
Esta ideia tem sido defendida por diversas entidades da região Norte, uma alternativa enquanto não avança a construção da nova ala pediátrica do hospital.
A disponibilidade do Centro Hospitalar para realojar o serviço foi aplaudida pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Confrontado com a notícia pela Renascença, o autarca lembrou que já tinha colocado essa hipótese numa carta enviada à ministra da Saúde, uma que, até ao momento, não mereceu resposta da tutela.
"Estou a saber desta notícia através da Rádio Renascença, mas essa foi exatamente a questão que eu coloquei à senhora ministra numa carta aliás pública, à qual ainda não tenho resposta", referiu. "Tenho sempre entendido que há aqui dois tempos: há naturalmente o tempo da obra, que deve ser feita o mais depressa possível de forma a resolver o problema definitivamente. Entretanto, é preciso encontrar uma solução temporária que alivie esta situação trágica que as crianças, os pais e os profissionais de saúde estão a viver."
A isto, Rui Moreira acrescentou que sempre questionou "se não seria possível, com base nos recursos existentes no Hospital de s. João e também nos outros, obviar essa situação e foi nesse sentido que a Câmara se disponibilizou para dar a ajuda que for necessária".
Construir nova ala "vai sempre demorar muito tempo"
A possibilidade de os serviços de internamento de crianças do S. João deixarem de funcionar em contentores antes de a nova ala ser construída pode tornar-se realidade em março do próximo ano.
O autarca alerta, contudo, para a necessidade de não se perder de vista o objetivo central que é o da construção da nova ala pediátrica do Hospital.
"Havendo uma necessidade de uma ala pediátrica, ela tem de ser construída. A situação [atual] é de emergência, que obriga, em primeiro lugar, a mitigar o problema que temos. Essa notícia de que estou agora a ter conhecimento merece o meu aplauso, porque resolve imediatamente o problema da emergência. Depois, apesar de tudo, vai ser precisa uma ala pediátrica e então tem de ser construída."
Riu Moreira alerta ainda que, "qualquer que seja a contratação, seja pela [associação] Joãozinho, seja pelo Estado, seja pela administração do hospital, mesmo que seja por ajuste direto vai sempre demorar muito tempo a ser construído e as crianças não podem esperar".
Hospital aponta mira a março
O hospital admite que a transferência temporária das crianças possa ter data agendada após o fim da obra de construção do serviço de hemoterapia, atualmente em curso, cuja conclusão está prevista para março.
Para além disso, a unidade indicou ainda que prevê um investimento de "cerca de 300 mil euros" em "reparações" nos contentores do internamento pediátrico. Algo que para o representante da Associação Pediátrica Oncológica é um disparate.
"É um disparate completo, primeiro porque pagam-se rendas altíssimas pelos contentores, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros veio a público dizer isso. Há um senhorio e esse senhorio tem de fazer a manutenção dos contentores, não devia ser o hospital", referiu Jorge Pires, da Associação de Pediatria Oncológica do Hospital de S. João à Renascença. "Porque 300 mil euros dá para construir ou para reconstruir 300 metros quadrados, dá mil euros por metro quadrado, portanto repare: estamos a falar de muito dinheiro para tão pouca coisa. Trezentos mil euros dá para fazer muita coisa, não acredito que haja a necessidade de se gastar 300 mil euros naqueles contentores, nomeadamente para uma questão de três ou quatro meses neste caso."