29 nov, 2018 - 18:18
A ex-ministra da Saúde, Ana Jorge, diz que existe muita pressão da indústria farmacêutica para a aprovação de novas vacinas.
Falando na sequência da aprovação por parte do Parlamento de três novas vacinas para o Plano Nacional de Vacinação, sem que para isso tenha havido recomendação da Direção-geral da Saúde, a ex-ministra não poupa críticas e dá um exemplo recente de interferência externa.
“Houve de facto pressão clara da indústria farmacêutica quando foi da Meningite C e que para introduzir a vacinação fez o alarme, promovendo que havia uma epidemia de meningite quando tecnicamente não havia. Isto é grave, porque lança o pânico na população.”
“A pressão era para a comparticipação da meningite C, o que obviamente achámos importante, de tal maneira que depois foi introduzida no Plano Nacional de Vacinação a curto prazo, mas não é esta a forma de trabalhar.”
“Está em causa a tranquilidade das pessoas, a segurança e a confiança que a população tem de ter numa comissão técnica, num órgão técnico do Ministério da Saúde que é a Direção-geral da Saúde”, lamenta a ex-ministra.
As vacinas em questão agora são contra o rotavírus, a meningite B e o HPV, neste último caso para rapazes. A decisão já tinha sido recebida com estranheza por parte da ministra da Saúde.
Questionado sobre o assunto, a ex-ministra Ana Jorge também critica a decisão. “Se vamos deixar que as decisões técnicas na saúde sejam tomadas do ponto de vista político, onde é que vamos chegar? Agora são as vacinas, depois podem ser outras áreas da saúde. Não se podem tomar decisões políticas puras e duras, se elas tecnicamente não tiverem comprovadas. É um erro e é não gerir bem os dinheiros públicos”, diz.
“As três vacinas não têm a mesma importância em Portugal. Não comparemos o rotavírus com o HVP, pôr tudo no mesmo saco, na mesma oportunidade, não me parece adequado”, queixa-se.