24 jan, 2019 - 18:00 • João Carlos Malta
1. Tudo começa na manhã de domingo, dia 21, com num confronto entre duas famílias do bairro do Seixal. A polícia é chamada ao local. Vários agentes da esquadra da Cruz de Pau envolvem-se em confrontos com moradores do sexo feminino. A cena é filmada e torna-se viral. O impacto aumenta ao chegar, através de uma publicação da deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua nas redes sociais, a vários órgãos de comunicação social.
Há uma troca de acusações dos dois lados. Os moradores chamam aos agentes de racistas e os polícias dizem que o vídeo apenas mostra uma parte do que se passou, queixando-se de que foram recebidos com o arremesso de pedras.
A PSP deteve um suspeito. Um dos agentes da PSP teve de ser assistido no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
2. A Direção Nacional da PSP abriu inquérito interno para apurar as responsabilidades. Na terça-feira, 23, também o Ministério Público revela que “no âmbito desse processo serão investigados todos os factos que cheguem ao conhecimento do Ministério Público, incluindo os relacionados com a atuação policial”, acrescentando que “decorrem, neste momento, diligências de recolha de prova”. A Inspecção-Geral da Administração Interna também está a acompanhar o caso.
3. Na sequência dos incidentes, os moradores marcaram um protesto espontâneo em frente ao Ministério da Administração Interna, convocado através das redes sociais. O mesmo acabou em confrontos entre manifestantes e agentes da PSP, no centro de Lisboa. A PSP alega que os manifestantes ocuparam a via pública. Houve disparos de balas de borracha e arremesso de pedras. Pelo menos quatro pessoas foram detidas, segundo confirmou o comissário Tiago Garcia, do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa.
4. Na madrugada de terça-feira, a esquadra da PSP no bairro da Bela Vista foi atingida por cocktails molotov e em Odivelas, tanto no centro como na freguesia de Póvoa de Santo Adrião, foram incendiados caixotes do lixo e viaturas com recurdo àquele tipo de engenhos explosivos.
5. A polícia reforçou o policiamento com elementos da Unidade Especial de Polícia na Bela Vista e em algumas zonas de Loures e Odivelas.
6. Ainda assim, na quarta-feira, registaram-se 24 ocorrências relacionadas com o incêndio de caixotes do lixo na Grande Lisboa e em Setúbal, entre a noite de terça-feira e as 7h10 de quarta-feira. Uma viatura foi danificada no Bairro da Bela Vista, em Setúbal. Em Massamá, Cacém e Queluz, pelo menos 13 ecopontos e um caixote do lixo foram incendiados. Em Loures, mais três ecopontos arderam. Na Bela Vista, em Setúbal, os danos foram mais graves: sete caixotes do lixo incendiados e uma viatura danificada.
7. De quarta-feira para quinta-feira, registou-se a terceira noite de distúrbios. De madrugada voltaram a arder alguns caixotes do lixo e um autocarro da TST – Transportes Sul do Tejo em Setúbal. Em Loures, um veículo da PSP foi apedrejado.
A PSP procedeu à detenção "de um menor de 16 anos" e "à identificação de dois menores de 13 e 14 anos - os quais foram aos entregues aos progenitores -, na sequência do registo de várias ocorrências de incêndio.
8. A embaixada de Angola em Portugal anunciou, na terça-feira, que está atenta ao apuramento de responsabilidades, apelando aos cidadãos angolanos que “se abstenham de ações negativas”.
Também o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, disse estar a procurar "informações concretas" sobre os incidentes entre moradores e a polícia no bairro da Jamaica, Portugal, onde vivem cidadãos de origem cabo-verdiana.
9. Mamadou Ba, assessor do Bloco de Esquerda (BE) na Assembleia da República e dirigente do SOS Racismo, escreveu na sua página pessoal do Facebook um texto em que fala da "violência policial". Sobre os confrontos na Baixa de Lisboa, dirigiu-se à polícia como "a bosta da bófia" e atacou aquilo que considera "sermões idiotas de pseudo radicais iluminados".
O mesmo Mamadou Ba acusou os meios de comunicação de partidizarem a luta contra o racismo, ao defini-lo como assessor do BE.
A discussão política já era intensa sobre o caso porque foi a deputada bloquista Joana Mortágua a divulgar o vídeo dos confrontos no domingo, no Bairro da Jamaica, com um comentário que falava de violência gratuita.
"4 minutos de desespero completo. 4 minutos que sintetizam a violência policial e o racismo neste país", escreveu a deputada, que garantiu que o Bloco iria "exigir responsabilidades".
O PSD considerou as declarações de Mortágua como “irresponsáveis”, considerando que “não podem ser alheias aos distúrbios ocorridos esta tarde [segunda-feira]”.
O Presidente da República também entrou dentro do debate e afirmou que a “posição sensata” sobre os casos de violência dos últimos dias na Grande Lisboa é não generalizar nem os comportamentos dos cidadãos envolvidos, nem a atuação da polícia.
“Penso que a posição que é a posição sensata é não generalizar neste tipo de acontecimentos, não generalizar nem o comportamento de cidadãos isolados, que venham a ser considerados censuráveis, nem o comportamento de elementos de forças de segurança isolados, que venham a ser considerados censuráveis”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
10. A escalada do tom no discurso político está a crescer, até dentro dos núcleo de partidos que suporta o governo. O líder parlamentar do PS, Carlos César, acusou, esta quinta-feira, o Bloco de Esquerda de adotar posições que têm "acirrado ânimos" face aos episódios de "perturbação" da ordem pública na sequência da intervenção policial no bairro das