12 fev, 2019 - 18:54
A coordenadora do estudo "As mulheres em Portugal, hoje", da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Laura Sagnier, afirma que, embora hoje em dia os homens já participem mais nas tarefas domésticas, “esta evolução ocorreu tão devagar, que, se continuamos a este ritmo, demoraremos entre cinco a seis gerações para que fique equilibrada a repartição das tarefas domésticas".
“Um dos capítulos em que a mulher está menos feliz com a sua vida é o trabalho”, diz Laura Sagnier, em declarações à Renascença.
Laura Sagnier sublinha que, apesar de estarem sobrecarregadas com as tarefas de casa e de isso ser um fator para a infelicidade, a maioria das mulheres diz que é no trabalho que se sentem mais infelizes, porque “estão a trabalhar muito, a passar muitas horas no emprego” e associam o trabalho "apenas a dinheiro”.
Quando se pergunta a uma mulher o que é mais importante no seu emprego, a resposta é “o salário" e a possibilidade de "conciliar o trabalho com a sua vida pessoal”. Quando uma mulher tem filhos pequenos, este último fator da conciliação com a vida pessoal chega a pesar mais que o salário.
Em comparação com a Espanha, Laura Sagnier afirma que em Portugal as mulheres são mais infelizes no trabalho, justificando esta maior taxa de felicidade da mulher espanhola pelo facto de “trabalharem menos uma hora e receberem melhor”.
Entre as inquiridas neste estudo, 51% estão infelizes com o trabalho que têm e, para 44%, o trabalho está abaixo ou muito abaixo das expectativas. Dois terços auferem menos de 900 euros líquidos por mês, um terço não tem vínculo contratual estável e 26% trabalham mais de 40 horas semanais.
Estas percentagens permitem perceber a razão de o fator emprego ser um dos que mais pesa quando o que está em causa é a infelicidade das mulheres portuguesas, "aliado também à inexistente evolução em relação à geração anterior do contributo do pai para cuidar e educar os/as filhos/as ou a ajudar nas lides da casa".
Laura Sagnier conclui que as mulheres acumulam muito trabalho durante vários dias e anos da sua vida, principalmente aquelas que têm mais do que um filho ou que ainda têm filhos pequenos, o que faz com “fiquem sem tempo para elas, porque não só trabalham muito como ficam com pouco tempo para descansar”. Para estas mulheres, o tempo despendido em trabalho não pago (6h12 em tarefas domésticas e filhos/as) é quase tanto como em trabalho pago (7h18, em média).
Todos estes fatores, desde a desequilibrada divisão das tarefas domésticas até à situação de trabalho pago das mulheres, justificam que estas se considerem quase sempre “cansadas, esgotadas, resignadas”.