24 fev, 2019 - 17:37 • José Carlos Silva
O Parque das Nações visto daqui parece que está do outro lado do mar. Afinal é o Tejo, e a vista deslumbrante que proporciona, atrai mais do que visitantes de fim-de-semana ao Samouco e a Alcochete: Atrai clientes. À boleia de um aeroporto civil que ainda não existe.
Hélder Letra, representante do empreendimento Tagus Bay, vai dando a volta à mesa mostrando o modelo do luxuoso bloco. À sua frente tem um casal francês, atento aos pormenores da conversa, num stand climatizado e paredes meias com o estaleiro das obras.
Está a construir-se um gigantesco empreendimento de luxo, que apesar de estar ainda nas fundações está meio vendido. Hélder Letra está satisfeito. O empreendimento “está a conhecer um grande dinamismo. Estamos atualmente com praticamente 50% de apartamentos vendidos sobre o que está aberto à comercialização e há uma grande procura.”
No entender de Hélder Letra, “antes de se falar do novo aeroporto, este dinamismo já estava a acontecer. Sendo que o aeroporto é uma mais-valia incontestável.”
Um T2 custa entre 350.000 e 360.000€.
Terrenos e casas já estão a valorizar
No Samouco, Manuel Costa está junto ao cais dos pescadores. Olha para lá do grande rio. Ele sabe que em terra, terrenos e casas estão a valorizar. E lembra que “há mais construção civil agora que no ano passado.”
Para Manuel Costa, a hipótese do aeroporto civil no Montijo, é a cola que une todas as coisas.
Ao seu lado, tem Marcos Gabriel. Veio para o Montijo algures no século passado, e trabalhou 6 anos nas oficinas da base áerea nº6. Ali se enamorou, casou e ficou.
A hipótese novo aeroporto tem alguns pontos negativos. Vai trazer barulho e confusão. Mas também vai trazer coisas boas: “Aqui há muito desemprego, e dará muito emprego a muita gente que anda na apanha ilegal da amêijoa.”
E dará emprego antes e depois. Antes “nas obras, durante 4 ou 5 anos, e depois quando abrir, haverá mais emprego. Nesse sentido é bom” conclui.
Quando se entra aqui, ou volta para trás ou atira-se ao mar
Num dos extremos da base aérea nº6 há um conjunto de armazéns. Alguns albergam oficinas como a que é gerida por José Gomes. Está a varrer o chão. Garante que até agora não apareceu alguém interessado em ficar com o espaço. Lembra que a garagem é alugada, mas que se houvesse interessados “trespassava já”.
O genro do dono dos armazéns anda ali por perto. João Gil admite que com o novo aeroporto tudo será valorizado. Mas na conta certa. Contudo não está à “espera de muitas novidades por aí além.”
É a favor do progresso, e lembra que a terra é pacata, e por isso as resistências sobretudo entre os mais velhos. A propósito recorda que “quando andaram por aqui a filmar os Batanetes, os mais velhos já andavam a bater mal com tanto movimento. Agora imagine com um aeroporto”.
Se dúvidas houvesse quanto à calma que por aqui se vive, diz que Samouco e Alcochete são como “um beco sem saída. Você entrando aqui, ou atira-se ao mar ou volta para trás.”
Quanto ao progresso, recorda que houve um momento antes da Ponte Vasco da Gama, e outro momento depois da Ponte. Conclui que “depois de se abrir aquela portinha da Ponte, vieram os assaltos. E as pessoas não estavam habituadas”. Daí algumas resistências.
Avó e Neta
O dia está bonito neste mês de Fevereiro.
Maria Rosa e a neta Filipa, passeiam e olham para uns cavalos num terreno deserto junto a uns prédio.
Filipa tem 19 anos, espera terminar a faculdade em 2021..
Encara de forma otimista o novo aeroporto. Diz que “vai trazer mais trabalho para as pessoas. Até para mim. Estou na faculdade e mais dois aninhos quando acabar, até posso ir trabalhar para lá. Vai ser bom”.
Quanto à avó, diz que a nova infraestrutura já não será para ela, que tem 72 anos. Mas é favor. Nem “o barulho me incomoda. E eu ainda por cima ouço mal…”