02 abr, 2019 - 07:40 • Lusa
Cientistas criaram em Portugal transportadores de medicamentos contra o cancro com compostos derivados de aminoácidos, que foram testados com sucesso em culturas de tumores. O trabalho, cujos resultados foram publicados na revista científica “Nanoscale”, foi realizado por investigadores da Universidade do Porto e do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), em Braga.
Os cientistas geraram em laboratório, a partir da síntese de moléculas derivadas de um composto orgânico, o aminoácido serina, lipossomas - pequenas vesículas esféricas que existem no organismo e que 'transportam' por exemplo moléculas que propagam o sinal nervoso nas células nervosas, sendo apontadas como um excelente veículo para a libertação controlada de medicamentos.
Na sua constituição natural, os lipossomas são formados por camadas de lípidos (que são igualmente compostos orgânicos).
Em vez de criarem lipossomas com lípidos, que "são caros e muitas vezes não são estáveis quimicamente", os cientistas da Universidade do Porto geraram lipossomas com base em duas moléculas semelhantes aos lípidos, mas que são derivadas do aminoácido serina e mais versáteis, explicou à Lusa um dos investigadores, Eduardo Marques, que estudou a formação dos lipossomas.
Os lipossomas são "uma das estratégias para transportar" a 'doxorrubicina', medicamento usado na quimioterapia para tratar cancro da bexiga, da próstata e do sangue (leucemia) e que foi utilizado no estudo, acrescentou.
Estratégica cirúrgica
Um grupo de trabalho do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, coordenado pela investigadora alemã Jana Nieder, passou à aplicação prática, ao 'encapsular' o medicamento anti-cancro 'doxorrubicina' nos lipossomas (vesículas esféricas ou nanoesferas que são aquosas no interior) e testar o seu desempenho em culturas de células cancerígenas.
O resultado foi que os lipossomas se mantiveram intactos com a droga, penetraram nas células, libertaram o medicamento e mataram os tumores. O efeito do medicamento foi observado nas células devido às suas propriedades fluorescentes (as moléculas que o compõem emitem luz depois de serem excitadas com uma fonte de luz).
Em declarações à Lusa, Jana Nieder, que lidera o Departamento de Nanofotónica do INL, referiu que as vesículas esféricas permitiram que o medicamento chegasse "em grandes quantidades" às células cancerígenas, com a droga a ficar "confinada nas vesículas durante um período prolongado".
Para a cientista, o método poderá ser usado no futuro como "uma estratégia" para eliminar cirurgicamente e "em segurança" os tumores malignos, "reduzindo drasticamente os efeitos secundários da quimioterapia", que mata as células cancerígenas afetando as células normais, e "melhorando significativamente a qualidade de vida dos doentes".