02 abr, 2019 - 15:54 • Marta Grosso
Doze sociedades científicas e organizações de saúde portuguesas uniram-se numa posição conjunta contra o tabaco aquecido, dizendo num comunicado divulgado esta terça-feira que estão “fortemente preocupadas com o surgimento de novos produtos de tabaco e com as alegações da indústria sobre o risco reduzido destes dispositivos”.
“Isto está a transformar-se num novo problema de saúde pública”, diz à Renascença José Pedro Boléo Tomé, membro da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e um dos signatários do documento.
Na opinião do especialista, “existe um marketing agressivo das empresas que comercializam estes produtos – não só de tabaco aquecido como de cigarros eletrónicos, que já têm mais anos no mercado e com dispositivos mais elaborados – que querem passar a toda a força a ideia de que são produtos de risco reduzido”. A verdade, aponta, "é que continuam a comercializar o cigarro e estão a ganhar novos consumidores destes produtos”.
Segundo José Boléo Tomé, o grande problema é a falta de conhecimento, dado que ainda não existem estudos sobre os efeitos deste tipo de tabaco na saúde das pessoas, a médio e longo prazo.
“Mas já temos a experiência quer do cigarro quer dos cigarros eletrónicos. E isto [o tabaco aquecido] é um produto que tem tabaco – no fundo, é um cigarro – e tem uma série de compostos que a própria indústria não divulga”, alerta.
“É tudo muito recente e são lançados para o mercado sem conhecimento científico sobre o mal que fazem e a informação que temos ao início é exclusivamente a que a própria indústria fornece”, afirma.
Sobre os malefícios, “não temos ainda estudos que nos afirmem perentoriamente que isto provoca doença, mas temos dúvidas suficientes e muitas reservas para prevenir as pessoas, sobretudo para prevenir os potenciais consumidores”.
E as preocupações não são só portuguesas. “No ano passado, a Sociedade Europeia Respiratória tinha feito um documento, que serviu um pouco de inspiração a este [lançado nesta terça-feira], que condenava e colocava preocupações em relação a estes produtos”, lembra o especialista.
“A própria Organização Mundial de Saúde tem vindo várias vezes alertar contra estes produtos e recomendar que os governos tomem medidas para proteção das pessoas e que não amaciem a legislação em relação a estes novos produtos”, acrescenta.
No caso da lei portuguesa, quer os cigarros eletrónicos quer o tabaco aquecido são equiparados ao cigarro. “E muito bem”, diz José Boléo Tomé.
Na opinião deste pneumologista, o importante é que “se continue a informar a opinião pública sobre os riscos” e as autoridades políticas e sanitárias se centrem no “esforço daquilo que já sabemos que é mesmo eficaz – isto é, as medidas para reduzir o tabagismo e para ajudar os fumadores a deixarem de fumar”.
“Existem fármacos para ajudar a deixar de fumar, existem consultas especializadas e tudo isso tem efeito e está bem estudado e comprovado”, salienta, em declarações à Renascença.
O documento conjunto lançado nesta terça-feira é assinado pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar/Grupo de Estudo de Doenças Respiratórias, Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo, Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular, Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária, Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho, Sociedade Portuguesa de Oncologia, Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia e Sociedade Portuguesa de Pediatria.
Foi elaborado e assinado numa reunião entre as doze sociedades, que decorreu no dia 8 de março na sede da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.
[O nome do entrevistado foi inicialmente redigido de forma errada. Pelo erro, entretanto corrigido, as nossas desculpas]