09 abr, 2019 - 14:09 • Agência Lusa
Cem dias depois de Jair Bolsonaro ter tomado posse como Presidente do Brasil, são cada vez mais os brasileiros, de todas as classes e perfis, que procuram "melhor qualidade de vida" em Portugal, segundo a Casa do Brasil.
Muitos destes estão "bem informados e já com uma imigração planeada", outros atraídos por 'contos' nas redes sociais sobre um "el dourado", que não existe, conta a presidente da Casa do Brasil, Cíntia de Paulo, explicando, em entrevista à Lusa, porque é que também os pedidos de retorno ao país de origem estão a crescer, como confirmam dados da Organização Mundial das Migrações (OIM).
A presidente da Casa do Brasil disse que, sobretudo no último ano, iniciou-se uma nova vaga de imigrantes brasileiros para Portugal, que se acentuou no final de 2018 e início deste ano.
"Eu arrisco a dizer que no último ano, acentuando-se no final de 2018 e início deste ano, houve uma chegada muito representativa" de imigrantes brasileiros a Portugal, indicou a presidente da associação, sem fins lucrativos, que apoia estas pessoas.
A responsável referiu que "é uma nova vaga muito diferente das outras, com um aglomerado de perfis" e que veio para ficar, para “construir aqui”.
A Lusa pediu os dados atualizados de novas entradas de brasileiros ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), mas fonte deste organismo referiu que esses números ainda não estão disponíveis.
No ano passado, contudo, só a Casa do Brasil em Lisboa, atendeu 476 novas pessoas (estão apenas contabilizados os que procuram pela primeira vez a associação). Já este ano, desde janeiro até 13 de fevereiro, tinha atendido 110 novas pessoas, disse a responsável, que faz parte da associação desde 2012 e é presidente desde 2017.
Na história da imigração brasileira para Portugal já houve momentos de muita afluência como o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, recorda, reafirmando que neste momento "há uma chegada bastante expressiva”.
Esta nova vaga é composta por diversos grupos, desde as pessoas com menos qualificação profissional, a um maior número de pessoas com mais qualificação, muitos estudantes universitários, que já estavam a chegar desde 2009, mas que continuam a crescer, explicou.
Mas há também a introdução de uma nova comunidade, a dos aposentados, os que têm rendimentos próprios no Brasil e a possibilidade de ter agora em Portugal o visto para aposentado, e ainda uma classe mais alta, que dentro do bolo da nova chegada não é "tão representativa", adiantou Cíntia de Paulo.
Os mais representativos "são os profissionais mais qualificados, da faixa entre os 30 e os 40 anos", acrescentou.
Dos que vão à Casa do Brasil, o motivo comum que os leva a deixar o país de origem é "a procura de uma melhor qualidade de vida", assegurou.
"Desde a destituição da Presidente Dilma [Rousseff - que sucedeu a Lula da Silva na presidência do Brasil] que sentimos que há na população brasileira uma descrença muito ligada às questões económicas, como o desemprego, que cresceu nesse tempo e já vinha a crescer antes", referiu também.
"E sentimos que há um descontentamento e uma incerteza do que vai ser o Brasil, no próximo mês, por exemplo. No próximo ano, então, a incerteza é muito maior", acrescentou.
Por isso, chegam "com uma preocupação com melhor qualidade de vida, melhor oportunidade de trabalho, mas sobretudo de segurança".
"Sentimos que é uma comunidade que vem, não só para trabalhar e mandar remessas para o Brasil, como acontecia nas várias passadas. Mas uma população que quer contribuir para Portugal, que quer aqui trabalhar, trazer os seus conhecimentos, aplicar aqui a sua profissão, investir, pequenos investidores, pequenos empresários - que não só a classe alta faz investimento -, são investidores com pequenas ideias e negócios", sublinhou Cíntia de Paulo.
Ou seja, trata-se de uma comunidade que "veio para contribuir", que pretende construir e trazer para Portugal as suas famílias.
"Sentimos já a chegada de famílias, o que revela um maior planejamento do processo migratório. Alguns até já vieram num passeio a Portugal antes, ou estudaram melhor o processo", conta.
Mas, também "continuam a chegar alguns com menos conhecimento da situação, nomeadamente do problema da habitação nos grandes centros urbanos, que é uma das dificuldades novas que antes não se colocava tanto".