18 abr, 2019 - 17:57 • Henrique Cunha
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No rescaldo da crise dos combustíveis que Portugal atravessou esta semana, na sequência da greve convocada pelo Sindicato Nacional de Motoristas de Transporte de Matérias Perigosas, o ex-secretário de Estado da Energia defende que o país deve equacionar a possibilidade de mudar a forma de gestão do armazenamento e redistribuição de produtos refinados.
Em entrevista à Renascença, Nuno Ribeiro da Silva sugere a possibilidade de essa gestão poder vir a ser competência da Redes Energéticas Nacionais (REN).
"A logística de distribuição de produtos refinados, das gasolinas, dos gasóleos, no nosso país ficou muito atrasada", defende Ribeiro da Silva.
O especialista recorda que a "única coisa que se fez foi aquando da Expo 98, em que teve de se mudar toda a logística de armazenamento na zona de Cabo Ruivo e se construíram novas infraestruturas de armazenamento de refinados em Aveiras de Cima".
Atualmente presidente da Endesa Portugal, Ribeiro da Silva lamenta que não se tenha criado "uma estrutura que mantivesse uma dinâmica e um interesse em reforçar a logística de pipelines, para levar os derivados de petróleo aos sítios críticos, nomeadamente aos aeroportos".
Com o que acontece esta semana, defende, este é o momento de Portugal "repensar se a atual estrutura de gestão de operação acionista da chamada CLC, que é a base da estrutura de armazenamento e de redistribuição de produtos refinados, que está em Aveiras de Cima, não deve passar para outra instituição".
Questionado sobre quem poderia assumir a responsabilidade, o especialista dá como exemplo "a REN ou alguma instituição que se possa criar" para gerir "as infraestruturas energéticas de uma forma mais dinâmica e que tenha em conta um problema de que nos esquecemos, que é a segurança de abastecimento".
"Toda a gente fala dos preços da energia, toda a gente fala da energia e do ambiente, mas esquecemo-nos do outro pilar da política energética que é a segurança de abastecimento", refere.
Nuno Ribeiro da Silva defende que esta crise demonstra que, "quer queiramos quer não, gostemos ou não, o petróleo continua a ser, de há 80 anos para cá, a base do circuito sanguíneo das nossas economias".
Com a introdução do gás natural em Portugal, o país começou a "diminuir essa absoluta dependência de toda a logística e da matéria prima petróleo". Ainda assim, essa dependência continua a ser uma realidade, ressalta.