23 abr, 2019 - 10:32 • Daniela Espírito Santo
Os jovens que executaram a invasão de palco que tem dado que falar nas últimas horas apelidam-se de Extinction Rebellion e pertencem a um movimento internacional com o mesmo nome, que "usa desobediência civil não-violenta" para "atingir mudanças radicais" na sua luta pela diminuição do "risco de extinção humana e colapso ecológico".
O discurso de António Costa no aniversário do Partido Socialista, assinalado na segunda-feira na antiga FIL, em Lisboa, foi interrompido por uma invasão de palco peculiar. Enquanto discursava, o primeiro-ministro foi "bombardeado" com aviões de papel, atirados por elementos do grupo que acabaram por subir ao palco com uma mensagem clara contra o aeroporto do Montijo: "Mais aviões? Só a brincar."
No cartaz que empunhavam, lia-se também que "é preciso um plano B", pois "não há planeta B". Havia também um discurso para ler, mas os seguranças no recinto expulsaram os jovens do palco da festa socialista.
No Facebook, o grupo explicou que pretende apenas que o Governo honre o compromisso que assumiu para tornar Portugal neutro em emissões de carbono em 2050.
"Lamentamos estragar a vossa festa, mas o rio Tejo, aqui ao lado, a nossa cidade e as gerações futuras não têm nada para celebrar", explicam, exigindo que se diga "a verdade sobre os impactos do aumento do tráfego aéreo."
"A temperatura global está a subir e os fenómenos climáticos extremos a aumentar. Caminhamos para a sexta extinção em massa. Para os nossos filhos poderem viver neste planeta, temos de reduzir drasticamente as emissões nos próximos 10 anos", continuam, passando em revista um acordo assinado pelo primeiro-ministro com a multinacional Vinci.
"Extinction Rebellion"
Os jovens pertencem a um movimento internacional com o mesmo nome, que "usa desobediência civil não-violenta" para "atingir mudanças radicais" na sua luta pela diminuição do "risco de extinção humana e colapso ecológico".
São eles que têm feito manchetes também em Londres, nos últimos dias, com mais de 700 ativistas a serem presos durante demonstrações a alertar para as alterações climáticas. Aliás, foi por lá que o movimento começou, em outubro de 2018, altura em que fizeram uma "declaração de rebelião" junto ao parlamento britânico e inspiraram movimentos similares em mais de 300 cidades espalhadas pelo planeta.
Desde então, bloquearam ruas, plantaram árvores em plena Parliament Square e até cavaram um buraco para enterrar o futuro num caixão.
"Já nos colámos às portas do Buckingham Palace enquanto líamos uma carta à Rainha", relatam no site internacional deste movimento, que tem captado a atenção internacional.
Invasões à EDP, Galp e CMTV no "currículo"
Por cá, o grupo diz já ir no seu décimo ato de rebelião não-violenta. Antes de interromper o discurso de António Costa, o movimento já tinha feito uma invasão similar ao estúdio da CMTV durante o programa da manhã, na semana passada.
Durante alguns segundos, conseguiram discursar para as câmaras daquele canal, mas a emissão acabaria por ser cortada. Online, ficou o registo do momento do "Alerta CliMa: Emissão alternativa em direto na CMTV".
Também a sede da EDP em Lisboa recebeu uma visita do movimento na semana passada, com o intuito de falar com o "verdadeiro Ministro da Energia, António Mexia", para exigir o encerramento das "centrais a carvão de Sines e de Aboño", "as maiores emissoras de gases com efeito de estufa de Portugal e de Espanha".
Visita similar teve a refinaria da Galp em Matosinhos, no 50.º aniversário do espaço. " As energias renováveis apareceram na festa exigindo que a refinaria se reforme rapidamente e dê lugar às energias limpas", foi dito no comunicado da ação.