28 abr, 2019 - 09:15 • Ana Carrilho
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As alterações climáticas também vão ter impacto no trabalho: na forma como é desenvolvido e na destruição de empregos que vão provocar. As zonas mais pobres da Ásia e África, em que se trabalha sobretudo em espaços exteriores, são as mais atingidas. Daqui a dez anos, 72 milhões de pessoas deverão ficar sem trabalho por causa do aumento da temperatura. São previsões da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Até 2030, a temperatura deverá aumentar 1,5 graus celsius a nível global. Com tanto calor será impossível trabalhar durante algumas horas da jornada laboral, o que levará à eliminação de 72 milhões de empregos a tempo inteiro, prevê a OIT no seu relatório “Segurança e Saúde no Centro do Futuro do Trabalho”, que assinala o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho neste domingo.
A perda média de produtividade será de 2%, mas os efeitos negativos do aquecimento global não se farão sentir da mesma forma em todo o mundo.
Metade da população mundial vive à volta da linha do Equador, onde as temperaturas aumentam mais rapidamente. São quatro mil milhões de pessoas que se encontram entre as mais pobres do mundo e que trabalham sobretudo no exterior, nomeadamente na agricultura.
Um outro estudo da OIT, divulgado o ano passado, mostra que na Ásia Meridional e África Ocidental, em 2030, a perda de horas de trabalho poderá atingir quase 5%, porque os trabalhadores terão de reduzir ou interromper a sua jornada devido ao calor insuportável. Contas feitas, equivale a menos 40 milhões de postos de trabalho numa região e nove milhões noutra. No Sudeste Asiático, serão 3,3% e na África Central, 2,7%. Pelo contrário, na Europa os efeitos do aumento da temperatura não terão impacto na perda de tempo de trabalho.
Daqui a dez anos – prevê a OIT – os trabalhadores agrícolas serão “responsáveis” por 66% das horas de trabalho perdidas e os da construção por 19%.
Temperaturas altas afetam saúde e segurança dos trabalhadores
As alterações climáticas – temperaturas mais altas e subida do nível das águas do mar, desertificação, degelo polar ou incêndios florestais – assim como a menor capacidade de trabalho das pessoas vão reduzir as zonas onde será possível trabalhar, sobretudo em espaços exteriores.
Por outro lado, os trabalhadores estarão mais expostos a riscos - como golpes de calor, fadiga, menor tolerância a agentes químicos, acidentes e de falta de segurança ou desidratação – e a doenças respiratórias, cardiovasculares, cancros e debilidade do sistema imunitário.
Também nesta situação, segundo a OIT, os trabalhadores migrantes e informais são os mais afetados. Com grande preponderância em sectores como o agrícola e da construção, raramente têm representação sindical e hipóteses de reivindicar os seus direitos laborais, nomeadamente, à segurança e saúde.
A Organização Internacional do Trabalho deixa ainda outro alerta para os efeitos da contaminação do ar na saúde dos trabalhadores. Também neste caso, os que exercem as suas funções no exterior estão sujeitos a maiores riscos.
Outro dado a acrescentar a esta equação, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) calcula que o número de mortes prematuras devido à contaminação do ar se multiplicará por cinco, atingindo um terço das mortes previstas para 2060.