28 abr, 2019 - 09:24 • Ana Carrilho
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Com desenvolvimento das novas tecnologias os horários flexíveis tornaram-se mais frequentes. À primeira vista, são bons para as empresas e para os trabalhadores que, assim, podem mais facilmente conciliar a vida profissional com a pessoal e familiar. Mas onde fica a fronteira entre o tempo de trabalho e de lazer quando é preciso estar sempre conectado ou concluir tarefas em tempo recorde? Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o teletrabalho provoca níveis altos de intensidade de trabalho e grande probabilidades de conflito com a família.
Esta é uma das razões que levou a OIT a eleger a organização do tempo de trabalho como uma das prioridades nos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores no relatório “Segurança e Saúde no Centro do Futuro do Trabalho”, lançado a propósito do Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, que se comemora este domingo.
Um terço dos trabalhadores faz horas em excesso
Trinta e seis por cento da força de trabalho mundial trabalha mais de 48 horas por semana, frequentemente para compensar salários baixos, sobretudo em países em desenvolvimento.
As horas de trabalho excessivas geram fadiga crónica. As consequências são doenças cardiovasculares, transtornos gastro-intestinais assim como ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Além de potenciarem a ocorrência de acidentes de trabalho.
As pessoas que participam em formas atípicas de emprego ainda correm mais riscos. Além das lesões e acidentes, a OIT identifica os riscos psicossociais e de assédio moral, a exposição a condições de trabalho deficientes e os riscos derivados da fadiga.
Para a OIT, não há dúvida de que a redução dos horários de trabalho tem benefícios claros na saúde e segurança dos trabalhadores.
Flexibilidade, a quanto obrigas
Conseguir trabalhar, acompanhar a família ou desenvolver atividades de interesse pessoal é o sonho de qualquer trabalhador. O desenvolvimento das novas tecnologias e do teletrabalho transformou os horários flexíveis numa prática corrente.
No entanto, quando é que acaba o tempo de trabalho e começa o de ócio? Quando é preciso estar sempre contactável e resolver algum problema profissional seja a que hora for? Sem fronteiras entre os dois campos, aumentam o stress e os riscos psicossociais.
Segundo a OIT, o teletrabalho provoca, com frequência, níveis mais altos de intensidade de trabalho, gera maiores probabilidades de conflito entre o trabalho e a família, afeta os níveis de bem-estar e aumenta o stress. 41% das pessoas com trabalho móvel baseado nas novas tecnologias registam altos níveis de stress, o que acontece apenas com um quarto dos trabalhadores que exercem as suas funções nas instalações da empresa.
Digitaiização e TIC: novas formas de trabalho e novos riscos
Trabalhar em qualquer lado pode dar jeito, mas, segundo a OIT, os trabalhadores que realizam o seu trabalho com a ajuda de dispositivos inteligentes podem perder autonomia e interação com os seus colegas, gerando stress e sensação de isolamento.
Por outro lado, as empresas tendem cada vez recorrer a mecanismos de controle dos seus trabalhadores através de programas e aplicações informáticas, rastreadores de GPS e outros meios.
No relatório “Segurança e Saúde no Centro do Futuro do Trabalho”, a OIT refere um estudo que demonstrou que as aplicações informáticas relacionadas com a segurança e os programas de bem-estar dos trabalhadores – dois métodos habituais de controle – reduziram a privacidade e capacidade para proteger o seu tempo de descanso e vida pessoal.
Admitindo que é preciso estudar melhor estas questões, a Organização Internacional do Trabalho considera que também podem gerar maior stress e riscos psicossociais.