07 mai, 2019 - 12:38 • Lusa
O primeiro-ministro ficou com “convicção plena” de que o ex-ministro Azeredo Lopes só soube do “memorando” da Polícia Judiciária Militar (PJM) no dia 12 de outubro, antes de se demitir, disse, esta terça-feira, o chefe de gabinete de António Costa.
Francisco André, penúltimo a ser ouvido na comissão de inquérito de Tancos, entregou aos deputados um envelope com cópia do “memorando” da PJM sobre a recuperação do material militar na região da Chamusca, documento ao qual teve acesso no dia 12 de outubro de 2018.
“Temos tido dificuldade em aceder a esse memorado”, tinha pedido o deputado do PS Ascenso Simões.
O chefe de gabinete do primeiro-ministro confirmou as diligências do assessor militar de António Costa, general Tiago Vasconcelos, para tentar obter um documento que já estava na altura a ser “amplamente referido” na comunicação social, na sequência das investigações da PJ à atuação da PJM.
Francisco André revelou que entregou o documento ao primeiro-ministro na manhã do dia 12 de outubro, antes de uma “reunião de trabalho” que António Costa iria ter com Azeredo Lopes e que “já estava marcada antes”.
No final da reunião, disse, discutiu “brevemente com o primeiro-ministro” que “ficou com a plena convicção que o ministro da Defesa teria tido contacto com o documento apenas nesse dia” e pela primeira vez, contou.
À tarde, Azeredo Lopes apresentou a demissão do cargo de ministro da Defesa.
Sobre o documento, Francisco André disse que se trata de um papel não timbrado, não datado nem assinado e destacou que dele resultam duas coisas: “Há, de facto, uma preocupação de proteção do informador e que terá havido atuação da Polícia Judiciária Militar à revelia do que tinha sido definido pela Procuradora-Geral da República.”
O chefe de gabinete de Costa sublinhou que achou “razoável” e uma “boa diligência” tentar obter o documento “para perceber o que se estava a passar”, mas frisou que a iniciativa foi feita já depois de ser público que o original tinha sido entregue pelo general Martins Pereira às autoridades judiciárias.
O deputado António Carlos Monteiro lembrou um debate quinzenal, que se realizou no dia 10 de outubro, no qual o primeiro-ministro foi questionado sobre se tinha conhecimento do documento.
“Não querendo eu acreditar que teve acesso a documentos em segredo de justiça, como sabe se o documento é importante ou não é importante?”, respondeu António Costa ao PSD naquele debate.
Hoje, António Carlos Monteiro questionou, "então só para a oposição é que era crime obter o documento?"
"Como o documento já tinha sido entregue às autoridades judiciárias, considerei razoável e indicado que recebesse um documento que estava a ser amplamente referido na comunicação social e que me pareceu necessário" para perceber o enquadramento, disse Francisco André.