27 jun, 2019 - 21:57 • Redação
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A eleição do Presidente norte-americano, Donald Trump, e a saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, podiam nunca ter acontecido num mundo sem notícias falsas partilhadas ao ritmo frenético das redes sociais. A ideia marcou o último dia da C-DAYS 2019, conferência sobre cibersegurança, na Alfândega do Porto.
Uma “guerra híbrida”, o uso das redes socais como arma e as ‘fake news’ foram alguns dos tópicos de enfoque durante o painel de discussão “Sociedades (Des)Informadas.
O debate foi conduzido por Isabel Batista do Centro Nacional de Cibersegurança, Luísa Meireles, diretora da agência Lusa e Felipe Pathé Duarte, do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna (ISCPSI).
Viver e continuar a viver numa sociedade democrática dependente, em grande parte, de um jornalismo livre, independente e que questiona. Esta é a opinião geral dos oradores no debate decorrido no âmbito do C-Days.
Num mundo onde as notícias falsas crescem a um ritmo exponencial, Luísa Meireles avisa que esta falsa realidade “mina os cidadãos e leva-os a não creditar nos jornalistas e no jornalismo”.
Filipe Pathé Duarte, professor no ISCPSI, fala de “perceção” para explicar o grande risco do fluxo de desinformação e como tudo isto afeta o comportamento humano. “Se há uma alteração dessa perceção sem haver uma possibilidade de contextualizar o facto, sem haver possibilidade de verificar o facto e estamos a ver a realidade de uma forma altamente fragmentada, a nossa perceção altera”, realça.
Num vídeo reproduzido durante a conferência, imaginou-se um cenário onde as ‘fake news’ não existissem e, consequentemente, não tivessem influenciado a perceção da sociedade. A conclusão? “Talvez o resultado do Brexit e das eleições USA pudesse ter sido bem diferente”.
Luísa Meireles lembra que as notícias falsas não são uma moda que nasceu no século XXI. Sempre “houve atitudes falsas com o objetivo de conduzir pessoas num determinado caminho”.
Contudo, reconhece que as novas tecnologias amplificaram a voz das ‘fake news’. “Não sei o que é pior: uma pessoa que acredita na mentira ou que não acredita na verdade”, afirma a diretora da Lusa.
O negócio das ‘fake news’ e a nova guerra híbrida
Atualmente, existem pessoas que são financiadas para difundir notícias falsas de modo a influenciar a opinião e decisão dos cidadãos.
Toma-se como exemplo o ato eleitoral onde a difusão de ‘fake news’ sobre um determinado candidato pode influenciar negativamente ou favoravelmente a sua prestação.
Na opinião de Luísa Meireles, as notícias falsas são um “negócio” de milhões, que consegue alcançar níveis de profundidade que vão muito além das notícias consumidas.
“A verdade é que as ‘fake news’ são pura e simplesmente um negócio. O Facebook é a maior empresa deste mundo. Até está a lançar a sua própria moeda, tem uma fonte de reversa e está associado ao Visa. A Google a mesma coisa”, defende a diretora da agência Lusa.
As pessoas mais velhas, sublinha, são mais propicias a partilhar notícias falsas do que as gerações mais novas, “possivelmente porque veem as partilhas dos seus amigos e acham que é credível e não estão tão alerta dos perigos”.
Filipe Pathé Duarte fala mesmo na existência de uma “guerra híbrida”, que é constituída por um lado “físico” e “não-físico”.
O professor do ISCPSI salienta que esta é uma das maiores ameaças do mundo moderno. Através de um ecrã é possível manipular o cidadão e, por conseguinte, a sociedade.
“Estamos numa nova guerra, onde o principal objetivo desta guerra não é abrir uma linha de frente de ataque, não confrontar diretamente o inimigo, mas entrar por detrás das linhas do inimigo e alterar a sua perceção para que ele se auto inflija os seus danos”, concluí Felipe Pathé Duarte.
Já Luísa Meireles acaba com uma nota mais positiva e garante que os jornalistas não estão em perigo. “Somos as vítimas a abater, mas também estamos mais preparados para combater as ‘fake news’”, sublinha,