02 jul, 2019 - 21:35 • Redação com Lusa
O primeiro dia de greve dos médicos fechou com uma adesão global de 80%, segundo o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que apela ao primeiro-ministro para que os receba em reunião.
O secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, adiantou que em termos globais a greve teve uma adesão de cerca de 80% dos médicos, que se alarga a 85% se forem considerado apenas o impacto nos blocos operatórios, com alguns a encerrarem por completo, com taxas de adesão de 100%, como por exemplo os hospitais de São José, Estefânia ou Egas Moniz, em Lisboa. Em termos de consultas externas a adesão fixou-se nos 75% e nos centros de saúde nos 80%, mas também neste caso com alguns exemplos de paralisação total, como nos centros de saúde de Camarate ou de Odivelas, na zona de Lisboa.
Roque da Cunha espera que a expressão que os médicos deram à greve, que classificou como “muito assertiva”, seja suficiente para levar o primeiro-ministro, António Costa, a aceitar marcar uma reunião com estes profissionais, que deixam esse apelo, apesar de recusas em momentos anteriores.
Num comunicado com o balanço do primeiro de dois dias de greve dos médicos – convocados por estruturas diferentes em cada um dos dias – o SIM deixa um apelo a António Costa para que “aceite pôr nas suas preocupações a solidificação do SNS [Serviço Nacional de Saúde], respondendo positivamente aos vários pedidos de reunião com os sindicatos médicos”. “Esperamos que depois de ser tão evidente perante toda a gente que por mais propaganda que exista as consultas demoram dois meses a serem marcadas, as cirurgias mais de ano e meio, que há problemas um pouco por todo o país, que ele possa fazer aqui um esforço, que possa ouvir os médicos, porque ficaria com uma sensibilidade diferente daquela que tem, que é praticamente nenhuma”, disse Roque da Cunha.
Perante os valores de milhões de euros pagos a prestadores de serviços, o secretário-geral do SIM disse que “não é admissível” que a ministra da Saúde, Marta Temido, diga que “não há dinheiro para resolver algumas destas questões com os médicos”, que, segundo Roque da Cunha, em alguns casos são apenas questões de organização. “Há nesta expressão que os médicos resolveram manifestar um sinal muito objetivo para que a senhora ministra da Saúde não atire a toalha ao chão e não se esqueça que é ministra da Saúde. O doutor Centeno diz que está tudo bem, mas a verdade é que nunca se pagou tanto de impostos nem nunca se investiu tão pouco na saúde. Os dados do Tribunal de Contas dos últimos três anos identificam justamente essa circunstância”, disse.
Com a greve que esta terça-feira começou, e que se prolonga até às 24h00 de quarta-feira, os médicos exigem que todos os portugueses tenham médico de família, lutam pela redução das listas de utentes dos médicos e por mais tempo de consultas, querem a diminuição do serviço em urgência das 18 para as 12 horas, entre várias outras reivindicações, que passam também por reclamar que possam optar pela dedicação exclusiva ao serviço público.
O primeiro dia de greve, hoje, foi decretado pelo SIM e o segundo dia, quarta-feira, foi decidido pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que marcou para o mesmo dia à tarde uma concentração de protesto junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa.
Enfermeiros com adesão de 75% no primeiro dia
O primeiro dos quatro dias de greve dos enfermeiros registou hoje uma adesão de cerca de 75%, segundo dados do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor). Num texto publicado na página do Sindepor no Facebook, o presidente do sindicato, Carlos Ramalho, agradece a todos os enfermeiros que estiveram hoje em greve, sublinhando que o nível de adesão demonstra que “desistir não é o mote” dos enfermeiros e que “há muitas injustiças que merecem este momento de protesto”.
“Agradecemos a todos os enfermeiros que estiveram hoje em greve e que apesar de todas as contingências, imposições do tribunal arbitral sobre os nossos mínimos publicados já no saudoso dia 13 de junho [anterior greve], mas infelizmente alterados menos de 24 horas antes do início da greve, prejudicando inclusive um arranque mais sereno desta greve e causando alguma ansiedade e incerteza entre muitos colegas”, lê-se.
A greve dos enfermeiros, que dura até sexta-feira, coincidiu hoje com uma greve dos médicos, convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e vai estar em simultâneo com outra desta classe na quarta-feira, desta feita marcada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM). Os médicos começaram hoje às 00h00 uma greve nacional de dois dias, a que se juntaram os enfermeiros, a partir das 08:00. Tanto médicos como enfermeiros argumentam que lutam pela dignidade da profissão e por um melhor Serviço Nacional de Saúde.
O Sindepor reclama o descongelamento das progressões de todos os enfermeiros, independentemente do vínculo ou da tipologia do contrato de trabalho e que sejam definidos os 35 anos de serviço e 57 de idade para o acesso à aposentação destes profissionais. Exigem ainda que o Governo inclua medidas compensatórias do desgaste, risco e penosidade da profissão, assegurando as compensações resultantes do trabalho por turnos, defina condições de exercício para enfermeiros, enfermeiros especialistas e enfermeiros gestores que determinem a identificação do número de postos de trabalho nos mapas de pessoal e que garanta, no caso dos especialistas, uma quota não inferior a 40%.
Os enfermeiros exigem também que o Governo aplique corretamente a legislação e o pagamento do suplemento remuneratório a todos os enfermeiros especialistas em funções e equipare, sem discriminações, todos os vínculos de trabalho.