05 jul, 2019 - 06:48 • João Cunha Redação com Lusa
A associação ambientalista Zero lança hoje a campanha “dÉCIbEIS A MAIS, O INFERNO NOS CÉUS” para alertar e sensibilizar para o ruído dos aviões na cidade de Lisboa, e convida a população a participar.
Numa ação de 24 horas a monitorizar o ruído dos aviões, a campanha começa às 07h00 e só termina à mesma hora de sábado.
O ruído provocado pelos aviões vai ser medido na zona do jardim do Campo Grande, junto da avenida do Brasil, uma zona que é sobrevoada pelos aviões que aterram ou levantam do aeroporto Humberto Delgado. Mas a organização incentiva os habitantes de zonas abrangidas pelo ruído a fazerem também monitorizações.
A organização vai montar equipamento “homologado e certificado” de monitorização para realizar medições contínuas e vai divulgar em direto a informação.
“A Zero vai dar voz a muitos dos residentes afetados por ruído associado ao aeroporto de Lisboa, desde casos de pessoas que só conseguem descansar com medicação aqueles que não conseguem trabalhar ou conversar por estarem sempre a ser interrompidos. Mais ainda, o caso único do maior hospital psiquiátrico do país no local mais afetado pelo ruído dos aviões com níveis impressionantes para quem precisa obviamente de um local silencioso”, diz a associação num comunicado alusivo à iniciativa.
As medições, segundo o comunicado, vão avaliar os dois indicadores de ruído previstos na lei (consoante a hora do dia), mas avisa que medições preliminares “dão indicações de uma significativa ultrapassagem” dos valores máximos permitidos, “independentemente dos picos de ruído que infelizmente a legislação não avalia diretamente”.
A Zero sugere que os cidadãos descarreguem aplicações de análise de ruído e que tornem púbicos os resultados.
E diz que o aeroporto de Lisboa tem atualmente mais de 650 movimentos (aterragens e descolagens) por dia e que os dados detalhados da monitorização de ruído no Aeroporto Humberto Delgado não são públicos.
“Os limites de ruído da legislação portuguesa não são cumpridos nas proximidades do aeroporto devido à influência dos aviões”, acusa a Zero, que refere haver na zona de aproximação dos aviões várias escolas primárias e secundárias, o Instituto Português de Oncologia, o maior hospital do país e a maior concentração de faculdades do país.
E alerta ainda que a exposição ao ruído provoca distúrbios do sono ou de concentração e que as crianças são mais afetadas.
“O Governo apoia a expansão do aeroporto Humberto Delgado de 30 para 42 milhões de passageiros sem avaliação ambiental estratégica. Implicará um aumento máximo dos movimentos de 40 para 48 por hora”, assinala também a Zero.
A Câmara de Lisboa já dispõe de uma base de dados de ruído, que conta também com a contribuição dos moradores através da medição de ruído com uma "app". As queixas têm vindo a aumentar e são vários os grupos que surgem nas redes sociais a pedir menos barulho.
Este ano, a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), responsável pelas Festas de Lisboa, apelou ao cumprimento de horários e de todas as normas de segurança, ruído, higiene e sustentabilidade, para salvaguardar o respeito pelos moradores. Mas no grupo de moradores "Menos Barulho em Lisboa" dá conta de situações irregulares durante as semanas de festas.
"Lisboa a capital do ruído! Até quando está brutalidade?", "E as trotinetes a apitarem a qualquer hora da noite? Ninguém se incomoda?" e "Um degredo e não não é som da banca é som das colunas municipais!" são alguns dos comentários que se podem ler no grupo. Fora das Festas de Lisboa, o ruído dos aviões é o que regista mais queixas.