05 ago, 2019 - 10:11 • Liliana Carona
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Em Celorico da Beira, junto à fronteira com Espanha, há empresas que não receiam a greve dos camionistas marcada para a próxima segunda-feira. Até ao momento, reina a serenidade.
A paralisação convocada pelo Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), a começar no 12 de agosto por tempo indeterminado, ameaça o abastecimento de combustíveis e de outras mercadorias, mas no restaurante “O Botas”, em Celorico da Beira, Ana Costa diz ter tudo o que precisa.
“Eu ando a pé e é tudo cultivado aqui. Se fosse a greve dos cozinheiros, ainda afetava Portugal. Já viu as pessoas ficarem sem comer? Isso é que era”, ironiza Ana Costa, de 46 anos.
Luísa Rodrigues, um ano mais nova e a trabalhar no mesmo restaurante, partilha da mesma opinião. “Aqui estamos no fim do mundo. Vou fazer o que fiz até hoje, manter a rotina normal”, garante.
Na oficina de pneus Ofinauto, o empresário José Peralta, de 45 anos, também passa ao lado do anúncio da greve dos motoristas de matérias perigosas.
“Estive atento à comunicação social no primeiro anúncio de greve e vi que os grandes centros foram mais afetados do que nós. Aqui é outro país. Há o Portugal que é Lisboa e Porto, o litoral vá; aqui é outro Portugal, nós somos um bocado esquecidos”, lamenta, sublinhando que recebe pneus todos os dias, “mas há transportadoras que já deixaram de vir, porque não é rentável. Não aguentam os custos”.
Contudo, Peralta considera vantajosa a proximidade com Espanha. “Se precisar de alguma coisa, estamos a meia hora de Fuentes de Oñoro”, refere sem deixar de assumir que está do lado do protesto dos motoristas: “Eu entendo-os, isto vai mal, alguma coisa tem que se fazer”.
Na Farmácia Nova, a conversa muda de figura. Há receio, admite Fátima Nunes, de 33 anos. Mas espera que a paralisação seja desconvocada.
“Os distribuidores estavam com medo da última vez, mas nenhuma volta foi cancelada e tudo correu bem. Desta vez, estamos com esperança que não vá para a frente a greve. Da última vez já estávamos a equacionar ir a Espanha”, recorda a funcionária, que garante não estar a ser tomada qualquer medida de prevenção.
Também entre os utentes desta farmácia, à semelhança de alguns empresários, é notória a despreocupação com o impacto que possa vir a ter a greve dos motoristas de matérias perigosas. “Não tenho medo da greve, não estou assim tão doente…”, atira uma das clientes.
A greve está marcada para dia 12 e não tem dia para acabar. Nesta segunda-feira, o Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas reúne-se com o Governo no Ministério das Infraestruturas, onde vai apresentar uma proposta para "evitar a greve". Admite, contudo, que sem a presença da ANTRAM, associação que representa a entidade patronal, "pouco se adiantará".
No sábado, o porta-voz da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) classificou a proposta do sindicato de “farsa”.