09 ago, 2019 - 18:16 • Agência Lusa
A Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) e outras entidades médico-científicas reafirmaram esta sexta-feira que há falta de prova científica de que o tabaco aquecido é menos prejudicial que o tradicional, mas a Tabaqueira fala de pelo menos 20 estudos.
O alerta sobre a falta de estudos surge num comunicado da SPC e do Grupo Multidisciplinar de Tabagismo, que junta representantes de 14 Sociedades Médicas Científicas, no qual se salienta que o mais seguro é deixar de fumar, algo com a Tabaqueira também concorda, apesar de contrapor a validade dos estudos que defendem a menor toxicidade dos novos produtos.
No comunicado as várias entidades médico-científicas frisam que não há até agora qualquer prova científica de que o tabaco aquecido ou os cigarros eletrónicos são menos prejudiciais e defendem a urgência de haver estudos científicos independentes, com duração e dimensão adequadas, que clarifiquem a questão.
E aos legisladores e entidades públicas pedem que tenham em conta a saúde das atuais e próximas gerações e promovam o cumprimento pleno da lei sobre o tabaco, “em particular a promoção da publicidade e patrocínio”, e ampliem as medidas restritivas “aplicáveis a estes novos produtos no que se refere às vendas na Internet e ao controlo das estratégias de marketing em eventos juvenis e redes sociais”.
O comunicado refere-se especificamente aos novos produtos de tabaco lançados pela indústria tabaqueira, como o tabaco aquecido, que têm cada vez mais consumidores, “sobretudo adolescentes e adultos jovens”, e que segundo essa indústria são menos prejudiciais.
Só que essa ideia de “mais saudáveis” é suportada em estudos pagos pela própria indústria, alerta a SPC no comunicado.
“Os estudos disponíveis são todos de curta duração, não existindo qualquer evidencia sobre os efeitos a longo prazo dos sistemas de tabaco aquecido. A maior parte dos artigos foi publicado em revistas de reduzida visibilidade e/ou com fatores de impacto desconhecidos ou baixos. Além disso, numa avaliação sistemática da evidência publicada em 2018, 65% dos estudos identificados eram patrocinados ou desenvolvidos pela indústria do tabaco e num relatório recente elaborado pelo Gabinete de Estudos da SPC, 68% dos 71 artigos sobre tabaco aquecido correspondem a artigos cujos autores são funcionários das empresas tabaqueiras ou reportam conflitos de interesse com as mesmas”, diz-se no documento.
Questionada pela Lusa, a Tabaqueira, subsidiária da Philip Morris International em Portugal, afiança, no entanto, que “existem mais de 20 estudos independentes e de organismos oficiais que confirmaram que o tabaco aquecido constitui uma melhor alternativa” aos cigarros convencionais para os que não querem ou julgam não conseguir deixar de fumar.
Fonte oficial da Tabaqueira disse à Lusa que a empresa não questiona que a melhor opção é deixar de fumar, mas adiantou que há “inúmeras pessoas” que não querem deixar e/ou procuram alternativas menos nocivas, sendo o tabaco aquecido “uma melhor alternativa”, já que não envolve combustão.
A Tabaqueira diz haver “evidência científica” e entidades oficiais (como do Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha ou Holanda) que corroboram “a existência de uma redução média entre 90 a 95% de constituintes tóxicos no aerossol que resulta do consumo dos novos produtos de administração de nicotina sem combustão, com ou sem tabaco, por comparação com o fumo dos cigarros”.
Segundo a fonte oficial da empresa, a comercialização do tabaco aquecido levou a que mais de 8,8 milhões de fumadores, dos quais 200.000 em Portugal, deixassem de fumar, “a um ritmo nunca antes alcançado” pelas políticas tradicionais.
“Evitar discutir o relevante papel” que pode desempenhar uma “estratégia de redução de danos”, e “negar o crescente consenso” de que os novos produtos são “uma melhor alternativa” para os fumadores, "estabelece uma confusão que não é bem-vinda entre os consumidores e certamente não contribui para o objetivo de obtenção de ganhos em saúde pública", salientou a fonte.