14 ago, 2019 - 11:27 • Redação com Lusa
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Em Aveiras, entre as 6h00 e as 10h00 desta quarta-feira, pelo menos 71 camiões-cisterna saíram da Companhia Logística de Combustíveis (CLC), conduzidos por motoristas.
A informação é prestada por fonte governamental à agência Lusa, adiantando que estes camiões-cisterna estavam a ser conduzidos por motoristas de empresas e sem escolta de militares.
A Renascença, que esteve no local, sabe contudo que alguns dos camiões que deixaram a CLC acabaram por se juntar ao protesto e cumprir o apelo lançado pelo porta-voz do sindicato, Pedro Pardal Henriques.
É que, à chegada ao aeroporto de Lisboa, onde iam deixar o combustível, perceberam que havia fila para descarregar (alegadamente porque os depósitos do aeroporto estariam cheios) e decidiram voltar para Aveiras, uma vez que ficar na fila significaria fazer mais dos que as oito horas de trabalho.
Esta manhã, Pedro Pardal Henriques anunciou que os trabalhadores não iriam cumprir os serviços mínimos nem a requisição civil, em solidariedade com os colegas que foram notificados por não terem trabalhado na terça-feira.
"Ninguém vai sair daqui hoje", assegurou o porta-voz e assessor jurídico Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), em Aveiras de Cima.
"Ninguém vai cumprir nem serviços mínimos nem requisição civil; não vão fazer absolutamente nada", acrescentou.
Foi a reação às palavras do ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, que na terça-feira afirmou que 14 trabalhadores não cumpriram a requisição civil e que a 11 deles “já foi feita a devida notificação do incumprimento”.
“Depois é que há a notificação de estarem a cometer um crime de desobediência”, acrescentou.
“Não incitei a nada”, diz Pardal Henriques
Questionado pela Renascença sobre se temia ser acusado de estar a incitar à desobediência civil, o representante do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas diz que não.
“Não temo, porque não incitei a nada. A minha função aqui é representar estas pessoas e dar-lhes voz. Aquilo que estou a transmitir aqui é a voz destas pessoas”, sublinhou.
Quanto ao facto de haver motoristas que continuam a cumprir os serviços mínimos, Pedro Pardal Henriques diz que “existem algumas pessoas que continuam a ceder às ameaças e subornos das empresas”.
“Mas numa quantidade muito reduzida”, acrescenta.
Serviços mínimos cumpridos na refinaria de Matosinhos
Ninguém "está a carregar ou a descarregar" combustível na refinaria da Petrogal em Matosinhos e nenhum motorista está a cumprir os serviços mínimos, afirma à agência Lusa um dos coordenadores do Norte do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas.
“Quem ia fazer os serviços mínimos não os cumpriu. Está aqui, junto ao piquete de greve. São cerca de 40 a 50 pessoas. Está tudo tranquilo, não há qualquer problema", garantia, esta manhã, Manuel Mendes, coordenador do sindicato (SNMMP).
Mas há outros relatos, nomeadamente na comunicação social, que indicam que há camiões a sair escoltados desta refinaria.
Secção do sindicato no Sul em oposição
Na refinaria mais a sul, em Sines, os motoristas em greve "estão a cumprir os serviços mínimos", segundo o coordenador do Sul do mesmo sindicato, em declarações à agência Lusa.
"Estamos a trabalhar e a cumprir os serviços mínimos, tal como aconteceu ontem [terça-feira], e já comuniquei ao sindicato que não vou dizer aos restantes colegas para não garantirem os serviços mínimos porque em Sines foi imposta uma requisição civil", afirmou Carlos Bonito.
Os motoristas de matérias perigosas e de mercadorias cumprem hoje o terceiro dia de uma greve por tempo indeterminado, que levou o Governo a decretar uma requisição civil na segunda-feira à tarde, alegando incumprimento dos serviços mínimos.
Portugal está, desde sábado e até às 23:59 de 21 de agosto, em situação de crise energética, decretada pelo Governo devido a esta paralisação, o que permitiu a constituição de uma Rede de Emergência de Postos de Abastecimento (REPA), com 54 postos prioritários e 320 de acesso público.
A greve foi convocada pelo SNMMP e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), com o objetivo de reivindicar junto da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) o cumprimento do acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.