15 ago, 2019 - 10:45 • Marta Grosso
Os motoristas de matérias perigosas, em greve há quatro dias, vão reunir-se para “conversar e redefinir estratégias para os próximos passos nesta batalha que está ganha”, afirmou nesta quinta-feira de manhã o porta-voz do sindicato.
“O país já percebeu que existem forças muito grandes a lutar contra estas pessoas que andam há 20 anos a lutar” pela melhoria das condições de trabalho, disse Pedro Pardal Henriques aos jornalistas.
“Ontem, houve pessoas detidas. Chegaram a casa, foram detidas, colocadas dentro do veículo das autoridades por instruções de alguém, para serem apresentadas nas instalações da empresa. A pessoa pediu para não fazer aquele serviço naquele dia, porque estava há 24 horas a trabalhar com o sistema nervoso alterado, e a resposta foi ‘ou vai trabalhar ou é detido e vai ser levado para a esquadra’”, denuncia, acrescentando que a intenção era que aqueles trabalhadores conduzissem mais oito horas.
“Isto é um crime”, acusa o também assessor jurídico do sindicato. “Colocar uma pessoa há 24 horas acordado e com o sistema nervoso alterado na estrada é um perigo e o que está a ser colocado em causa é a segurança de todos nós”, sustentou.
Pedro Pardal Henriques chegou à Companhia Logística de Combustíveis (CLC) de Aveiras de Cima já passava das 10h00. Sobre o caso da burla de que é acusado, garante que ainda não foi notificado e estranha que a comunicação social saiba da existência de um processo antes dele próprio.
“Ontem, os órgãos de comunicação vieram novamente dizer que existe uma queixa confirmada pela Procuradoria Geral da República. Eu ainda não fui notificado e acho interessante que os órgãos de comunicação saibam antes de eu ser notificado”, afirmou.
O porta-voz do sindicato lembrou que, em abril, saiu a mesma notícia. “Dirigimo-nos ao DIAP [Departamento de Investigação e Ação penal] para saber se existia alguma queixa, porque pode sempre haver uma queixa, mas o DIAP respondeu-nos por escrito que não havia queixa alguma”, recordou.
Face às mais recentes notícias, Pardal Henriques conclui que “alguém está a mentir”: ou o DIAP ou a comunicação social ou a Procuradoria.
“Ou então existe uma campanha montada para tentar afastar a atenção das pessoas do essencial, para outras coisas que não os problemas dos motoristas. Estamos aqui há três noites quase sem dormir e depois há uma campanha atrás para desviar a atenção de tudo o que é essencial. Analisam o mensageiro em vez de ver a mensagem que está aqui. Estou tranquilo, porque nunca enganei ninguém, muito menos fiz alguma burla”, garante.
“Antram quer que a greve se mantenha”
O presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas vê a recusa da Antram em não ir à reunião desta quinta-feira na Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) como falta de vontade para negociar.
“Nós lá estaremos”, garantiu esta manhã Francisco São Bento, que falou aos jornalistas antes de Pedro Pardal Henriques.
“O desafio foi lançado. Se a Antram quiser manter a posição fica ao seu critério e ao dos portugueses para ver quem é que não quer negociar”, conclui.
Na quarta-feira à noite, a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) anunciou que não iria marcar presença na reunião proposta pelo Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas.
"Nós reunimo-nos com quem quer negociar de forma franca e transparente e que reflita a verdade do que ficou escrito. Essas condições não estão reunidas com os sindicatos em greve", justificou o presidente da Antram, Pedro Polónio, à saída de uma reunião com a Fectrans no Ministério das Infraestruturas, que terminou com um acordo que garante um aumento de pelo menos 120 euros por mês para os motoristas.
Desde o princípio da greve que a Antram tem dito que só volta à mesa das negociações se a paralisação for suspensa. “A Antram não quer negociar e quer que se mantenha a greve”, concluiu esta manhã o presidente do sindicato.
Perante este impasse, qual a solução? “Vamos ponderar serenamente, reunir-nos, tentar chegar a alguns consensos e reagir”, adiantou Francisco São Bento.
Quanto ao acordo celebrado entre a FECTRANS e a Antram, Pedro Pardal Henriques, porta-voz do sindicato, frisa que é a “segunda vez em menos de um ano” que esta estrutura sindical “veio fazer um contrato à revelia dos trabalhadores”.
“Estes não têm nada a dizer sobre as condições que lhes vão ser atribuídas. A FECTRAN e a Antram impõem”, resume.