17 ago, 2019 - 00:45 • Ricardo Vieira
Alexandre Soares dos Santos, que morreu esta sexta-feira, aos 84 anos, andou pelo estrangeiro, foi o homem mais rico do país, liderou um grupo centenário, a Jerónimo Martins, e criou uma fundação. Dez frases para compreender melhor um dos maiores empresários das últimas décadas em Portugal.
“Os pobres fizeram-se para a gente os transformar em classe média e depois subirem se possível. É para isso que a gente luta.” Observador, fevereiro de 2019
“[Na Alemanha] Houve uma parte interessante, que me deu um conhecimento da vida enorme, enorme, enorme. Ter trabalhado como operário no turno da noite. Seis semanas. E trabalhei como vendedor cinco meses. Levantava-me às cinco da manhã e deitava-me às dez, onze. Vendia, entregava e carregava uma tonelada de margarina por dia. Com os vendedores, aprendi os truques todos.” Entrevista a Anabela Mota Soares (Público), 2012
"A nossa lei da greve é antiquada, imposta pelo Conselho da Revolução. A greve é fundamental, as pessoas devem ter direito à greve, mas não é por dá cá aquela palha." Renascença, março 2014.
“O salário mínimo é baixíssimo e devia ser aumentado. Eu não acredito que salários baixos possam contribuir para a melhoria da produtividade das empresas. As empresas que dizem que não podem [pagar], muitas vezes não fazem investimentos para melhorar a sua produtividade.” Renascença, março 2014.
Veja também:
“Estamos sobrecarregados com impostos de toda a espécie. Fala-se muito no IRC, mas há todas as outras taxas. Em condições normais, não fosse eu português, não fazia sentido termos um investimento no Pingo Doce”. TVI24, setembro 2017
“É fundamental que haja uma mudança de mentalidade por parte do empresariado, dos sindicatos e dos partidos políticos, que pensemos todos em Portugal. E esta é a altura ideal, a seguir ao euro, para o Presidente da República propor um pacto de regime. Devemos pensar o que é que queremos para Portugal, e o que é que temos de fazer, e cumprir.” Entrevista Renascença/Público, julho de 2004
“Desde o primeiro dia em que comecei a trabalhar, poupei. Comprei um carro muito mais tarde. O meu pai nunca me deu carro nenhum. Esse dinheirinho de lado, ainda mantenho. De resto, o dinheiro fez-se para criar emprego, modernizar o país, dar melhor qualidade de vida a todos os que trabalham [connosco]. Daí a Fundação [Francisco Manuel dos Santos, FFMS].” Entrevista a Anabela Mota Soares (Público), 2012
“Eu não sou de esquerda nem de direita. O António Barreto diz-me que sou um conservador liberal. Sou é cristão. Hoje, a minha grande preocupação é saber como vivem as pessoas que trabalham connosco. Descobrimos que tínhamos mais de 15 milhões de salários congelados pelos tribunais, e que as pessoas tinham mesmo fome. Por isso criámos um fundo, actualizado todos os meses, e que é dado às pessoas. Não precisam dizer o nome, dizem só que têm necessidade. É a responsabilidade social de uma empresa.” Entrevista a Anabela Mota Soares (Público), 2012
“Sou católico crente, praticante, e gostava, se na realidade houver alguma coisa para lá, de encontrar o meu pai e ter umas conversas com ele. Não só ajustar contas como relatar. [gargalhada] Sabe que discuto muito com ele, ainda hoje. Há coisas que não pode discutir com a mulher, nem com os filhos, nem com os colegas. Tem de tomar uma decisão, pensar nos argumentos. Discuto comigo em voz alta! Portanto refugio-me no meu pai.” Entrevista a Anabela Mota Soares (Público), 2012
“Uma lição de vida, de conduta. É a única coisa que me interessa deixar. O resto é um património que têm de cuidar, para o qual outras pessoas contribuíram. Meu, é aquilo que penso, aquilo de que gosto, aquilo que defendo e que espero que topem. E que tenham respeito pelas pessoas. Só me irrito verdadeiramente quando não há respeito pelas pessoas.” Entrevista a Anabela Mota Soares (Público), 2012