29 ago, 2019 - 15:26 • Redação
Há professores destacados para dar aulas no Algarve que optam por viver em parques de campismo, hostels ou residenciais. A realidade é noticiada nesta quinta-feira pelo “Diário de Notícias” e, não sendo nova, tem-se agravado de ano para ano.
“Temos conhecimento dessa realidade, que aliás é uma realidade que não se esgota no Algarve – eu diria até que acontece na cidade de Lisboa e no Porto também”, refere à Renascença o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof).
“Particularmente em Lisboa, é um problema grave que no ano passado levou ao não preenchimento de lugares que apareceram com horário completo para efeitos de contratação – por exemplo, já durante o ano – precisamente porque o preço da habitação hoje, em algumas zonas, é superior ao salário líquido de um professor”, acrescenta.
No Algarve, o turismo fez disparar ainda mais o preço das casas e já não é só durante o verão.
Se este cenário se mantiver, alerta Mário Nogueira, poderão surgir problemas no futuro, pois, “convenhamos, para todo o trabalho que tem que ser feito em casa, não é propriamente a [escolha] adequada” e “isto pode até levar a que haja alunos e escolas que não vão conseguir ter professores habilitados”.
O sindicalista defende, por isso, que sejam os municípios a tratar do alojamento dos docentes: “esta, sim, é que seria uma responsabilidade que o Governo deveria transferir para os municípios”, aponta.
Estas questões “são de ordem social” e “aí os municípios deveriam ter a responsabilidade de poder ter uma oferta com custos moderados, garantindo que as escolas do seu concelho têm os professores de que necessitam, para que os seus alunos tenham aulas do primeiro ao último dia”, argumenta.
A Renascença descobriu um professor no Algarve que já passou pela experiência de viver num parque de campismo por incapacidade financeira de sustentar um alojamento.
Paulo Cesário é de Torres Novas e dava aulas no ensino particular, mas no ano passado ficou desempregado. Ir trabalhar para o Sul do país não o assustou, mas os preços dos apartamentos e dos quartos para arrendar é que não estavam ao alcance da sua bolsa.
"A opção foi o parque de campismo da Fuseta. Falei com a minha mulher e com o meu filho e resolvi ir para lá fazer oito meses seguidos. Eu dava aulas na Fuseta e em Moncarapacho", conta.
Mas Paulo Cesário é perentório: “Para isto, é preciso gostar de fazer campismo; não é para todos".