09 mar, 2019 - 07:00 • Joana Gonçalves
Pessoas que trabalham, vivem ou passam uma quantidade considerável de tempo perto do aeroporto Humberto Delgado, estão expostas a elevadas concentrações de partículas ultrafinas que constituem um risco considerável para a saúde pública.
É esta a conclusão de um estudo da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL) e do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade (CENSE), divulgado esta terça-feira.
De acordo com o mesmo documento, há uma relação clara entre os movimentos aéreos e os níveis de partículas ultrafinas (UFP), cuja concentração é 18 a 26 vezes mais elevada em áreas influenciadas pela atividade aérea.
Locais como o bairro de S. Francisco, Charneca do Lumiar ou a periferia do Campo Grande são apontados como especialmente vulneráveis às concentrações de UFP. Uma influência que se estende de forma significativa a zonas como as Amoreiras.
Em entrevista à Renascença, Margarida Lopes, autora do estudo, explica o potencial nocivo que estas partículas representam para a saúde pública. “Dada a sua muito reduzida dimensão, estas partículas são absorvidas pelos alvéolos pulmonares e passam para a corrente sanguínea. A partir daí, facilmente chegam a qualquer órgão do organismo, cérebro inclusive”, explica.
“Para além de estarem associadas a problemas cardiorrespiratórios, são suspeitas de originar problemas neurológicos, têm sido associadas a problemas de gestação e peso reduzido à nascença. Portanto, há fortes evidências de que são muito nocivas para a saúde”, acrescenta.
Apesar das evidências crescentes de que a exposição prolongada a UFP pode induzir ou agravar as condições de saúde pulmonar, associadas ao aumento das taxas de hospitalização e mortalidade, as partículas ultrafinas não são, ainda, objeto de valores-limite na qualidade do ar.
“A nanotoxiologia é relativamente recente, portanto só há pouco tempo é que começamos a ter a capacidade de medir partículas tão pequenas. Estão a ser desenvolvidos estudos clínicos para avaliar precisamente as consequências decorrentes da exposição das populações às partículas ultrafinas, mas ainda não se apontam valores-limite e penso que ainda vamos ter de esperar mais uns anos para que isso aconteça”, esclarece.
O mesmo estudo aponta, ainda, horas de pico de concentração de partículas ultrafinas. O período entre as 18h e as 19h, bem como os intervalos mais próximos das 21h e 23h são aqueles que registam uma concentração mais elevada de UFPs.
Para Margarida Lopes a solução é só uma: “evitar ao máximo a instalação de aeroportos junto de centros populacionais”. Uma alternativa que não crê que se venha a concretizar.