02 out, 2019 - 12:59 • Joana Bourgard , Joana Azevedo Viana (edição]
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Foi a partir de Santarém, da Escola Prática de Cavalaria, que a 25 de abril de 1974 saíram as forças lideradas por Salgueiro Maia com a missão de ocupar o Terreiro do Paço.
Quatro décadas depois, o distrito voltou a ser palco de um dos mais marcantes episódios da história moderna das Forças Armadas – o assalto a Tancos, que nas últimas semanas voltou a ganhar destaque mediático e a servir de arma de arremesso entre partidos em vésperas das eleições legislativas.
Mário Pereira, 56 anos, é sargento-mor do Exército e está na reserva desde o ano passado. Ingressou nas Forças Armadas por via do serviço militar obrigatório, hoje extinto, e esteve destacado no Campo Militar de Santa Margarida, a pouco mais de dez quilómetros dos Paióis Nacionais de Tancos. Em entrevista à Renascença, explica o que considera ser a razão para a fraca adesão dos jovens de hoje à carreira militar.
A palavra de ordem: "degradação". Degradação das habitações concedidas aos militares, sobretudo em início de carreira. Degradação dos salários oferecidos aos jovens que hoje ingressam nas Forças Armadas, "muito abaixo da média nacional". Degradação do investimento no setor, que na sua opinião é o que, em última instância, explica o furto de armas dos paióis de Tancos, em junho de 2017.
"A culpa do assalto, na minha opinião, é militar na ótica de não ter guardado o que tinha à sua guarda, mas a total responsabilidade do assalto é política, porque o Estado não deu as condições financeiras e materiais para que os militares conseguissem garantir a segurança física dos paióis", defende o sargento-mor do Exército. "Os grandes responsáveis do assalto são os políticos, pela falta de investimento."
Para Mário Pereira, "quem fez o assalto terá conseguido recolher a informação necessária sobre o estado em que se encontravam as instalações e qual era o procedimento feito ao nível da segurança" e é por isso que culpa o Estado. "O que aconteceu em Tancos espelha o nível de degradação a que chegaram as Forças Armadas."
E haverá algum partido que tenha mais culpas no cartório? A esta pergunta, o militar responde com outra. "Enquanto cidadão, assisti a 45 anos de governação entre PS e PSD. Quem poderão ser os culpados do estado em que se encontram as Forças Armadas?"
É por isso, diz, que dentro de poucos dias, quando for às urnas a 6 de outubro, provavelmente vai optar por votar num dos partidos pequenos.
"Sempre votei e este ano irei fazê-lo, mas há décadas que não escolho nenhum dos partidos do arco do poder", garante. "Uma democracia deve pautar-se por diversidade de partidos no Parlamento e seria bom que os partidos pequenos conseguissem eleger mais deputados. Possivelmente é por aí que irei escolher, porque os partidos grandes estão garantidos."
*Este artigo integra o trabalho "Eu, eleitor", em que, até às legislativas, a Renascença dá voz a um eleitor por cada um dos 18 distritos de Portugal continental