04 out, 2019 - 08:10 • Redação
Afinal, o “papagaio-mor do reino” seria um comentador televisivo e não o Presidente da República, segundo o major Vasco Brazão, uma das figuras centrais do caso de Tancos.
Em declarações ao “Expresso”, o inspetor-chefe da Judiciária Militar explica o contexto das escutas: “Falava de um comentador televisivo, utilizando uma alcunha que uso habitualmente quando a ele me refiro. (...) Posso não ter sido feliz nos termos utilizados, mas a verdade é que a minha família estava sob uma grande pressão, porque decorria a comissão parlamentar de inquérito e eu estava em prisão domiciliária. É abusivo o caso que se quis fazer acerca de uma conversa que nem é relevante para o objeto do processo.”
Vasco Brazão, que é um dos 23 acusados no caso, diz acreditar que o Presidente Marcelo desconhecia a operação para a recuperação as armas e que também não tem indícios de que António Costa soubesse.
Quanto ao ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, Brazão afirma não ter dúvidas de que estava a par de tudo.
Ao semanário diz que a operação de encenação “foi dirigida pelo diretor-geral da Polícia Judiciária Militar (PJM), o coronel Luís Vieira, com o conhecimento e acompanhamento do diretor de investigação criminal da PJM, o coronel Manual Estalagem”, que nunca foi constituído arguido.
Questionado por que razão não informaram os procuradores do inquérito sobre a operação clandestina, esclareceu: “Não negociámos com ninguém, trabalhámos com um informador, de cuja existência tomámos conhecimento através da GNR de Loulé. Fomos movidos pelo desígnio de assegurar a recuperação do material de guerra furtado, sujo desaparecimento constituía um risco gravíssimo para a segurança nacional”.
Processo tem 23 arguidos
Neste processo foram constituídos 23 arguidos, sendo que nove foram acusados de planear e executar o furto do material militar dos paióis nacionais de Tancos e os restantes 14, entre eles o ex-ministro Azeredo Lopes, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.
Um mês após o furto das armas [4 de agosto], Azeredo Lopes recebeu Luis Vieira no seu gabinete e na presença do seu chefe de gabinete, Martins Pereira.Na ocasião, disse ter recebido do diretor da PJM um documento timbrado e assinado por este, relativo ao mal-estar da PJM face à intervenção da PJ nas investigações, mas que o mesmo não deu entrada oficial no seu gabinete por não reunir os critérios necessários, segundo a avaliação feita por Martins Pereira.
Quanto ao dia do achamento das armas [18 de outubro de 2017], Azeredo Lopes recebeu uma chamada telefónica da então Procuradora Geral da República Joana Marques Vidal a relatar que considerava que a PJM militar não tinha respeitado a delegação de competências na investigação do furto de Tancos e que estava muito desagradada com a situação, estando a ponderar fazer uma participação para efeitos da instauração de processos.