14 out, 2019 - 19:52 • Henrique Cunha , João Pedro Barros
A 2 de outubro, quatro dias antes das eleições legislativas que viria a ganhar, António Costa visitou o estaleiro da ala pediátrica do Hospital São João, no Porto, cuja montagem teria sido concluída na véspera. O primeiro-ministro, em plena campanha, regozijava-se por não se chegar ao fim do Governo em funções sem que estivesse “em ação” aquilo que “esteve parado tanto tempo”. A obra arrancaria em outubro, com um prazo de execução de 18 meses, garantiu-se.
Este fim de semana, começaram a circular nas redes sociais várias fotos do local onde esteve António Costa, que revelavam um estaleiro vazio e sem qualquer movimentação aparente de pessoas ou materiais. As imagens tornaram-se virais, mas o Hospital de São João garante que a obra decorre “com plena normalidade”.
Fonte próxima do conselho de administração, contactada pela Renascença, assegura que a montagem do estaleiro prossegue dentro do prazo previsto, não havendo, por agora, razões “para qualquer tipo de especulação”.
Transferência do serviço de sangue pode causar atrasos
Jorge Pires, porta-voz da Associação Pediátrica Oncológica do Hospital de São João (APOHSJ), foi um dos que partilhou nas redes sociais as fotografias. À Renascença, frisa que não foi responsável pela execução das mesmas, mas partilhou-as e diz que não ficou surpreendido.
“Já estava à espera. Com estes governantes já estou habituado a estes comportamentos, que dão dor de barriga a quem anda preocupado com os assuntos que interessam realmente e não andam para a frente por conveniência política”, declarou.
Na opinião de Jorge Pires, a vista de Costa foi uma acão que teve como objetivo “fazer o show off político e eleitoralista”. “Foi unicamente a agenda política a comandar a visibilidade que lhes interessava para a obra do São João, para mostrar que estavam a fazer alguma coisa”, salienta.
O porta-voz da APOHSJ aponta a localização do serviço de sangue do hospital como um fator fulcral para o arranque das obras.
“Temos dinheiro, temos empresa, temos ajuste direto aprovado por unanimidade na Assembleia da República, o que é difícil. Temos publicação em Diário da República a autorizar a utilização do dinheiro, mas não temos obra propriamente dita. Não adianta inaugurar obra e estaleiro, porque sem tirar o serviço de sangue dali, nada vai começar. Foi por essa razão que a obra parou quando já tinha começado”, aponta.
No entanto, fonte do Hospital São João assegura que o processo de transferência do serviço de sangue está a decorrer de acordo com os prazos estabelecidos.
Empresa construtora fala em "trabalhos de preparação"
A empresa de construção civil Casais reitera que a ala pediátrica deve ficar concluída dentro dos prazos de consignação, ou seja, até final do primeiro semestre de 2021.
Em resposta à Renascença, a Casais garante que decorrem trabalhos de preparação, aprovisionamento de materiais e contratação de serviços. Por outro lado, alerta para o facto de que "a execução de trabalhos no complexo hospitalar obriga a uma articulação bastante grande entre a obra e o Hospital".
A construtora assegura que "quer a Casais, quer o Hospital estão bastante comprometidos para assegurar o sucesso da intervenção".
[Notícia atualizada às 15h15 de 15 de outubro]