19 out, 2019 - 11:59 • Olímpia Mairos
O Café Memória de Mirandela abre portas a partir do dia 16 de novembro e vai funcionar no terceiro sábado de cada mês.
O primeiro Café da Memória no interior do país integra a rede nacional do projeto da Associação Alzheimer Portugal e, segundo o responsável Luís Durães, “não pretende ser uma clínica da memória, mas sim um ponto de encontro para pessoas com problemas de memória, seus cuidadores, familiares e amigos.
“É um espaço informal, não há qualquer tipo de obrigatoriedade de participar na sessão toda ou em todas as sessões. As pessoas sabem que podem aparecer e que são recebidas à porta por dois técnicos, que são sempre os mesmos dois técnicos, que dinamizam todas as sessões e por uma extensa equipa de voluntários que vai promover um espaço de partilha de informação, de partilha de experiências também e suporte emocional de apoio mútuo”, explica Luís Durães.
Já a neurologista Ida Matos destaca a “ajuda muito importante” que o Café Memória pode dar a quem cuida dos doentes.
“À medida que a doença avança, quem começa a consumir mais tempo nas consultas é o cuidador que não sabe como há de lidar com o doente que um dia não quer tomar os remédios, outro dia não dorme e anda a passear pela casa de noite”, observa a médica.
E como consequência – acrescenta – “o cuidador começa a ficar muitas vezes ansioso e, muitas vezes, não tem ninguém com quem falar”, daí a importância destes espaços para “poder partilhar com outra pessoa que tem a mesma experiências que, se calhar, já arranjou um truque mágico para fazer com que o doente coma e tome os medicamentos sem ninguém stressar em casa”.
“Isto é fundamental para o doente e para o cuidador melhorar o cuidado ao doente e melhorar a saúde mental do cuidador”, sublinha ainda.
A neurologista da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste indica que mais de metade das consultas anuais na especialidade de neurologia, realizadas no distrito de Bragança, são de utentes que sofrem de demência.
“Nós vivemos num distrito com uma pirâmide etária invertida e, ao termos uma população predominantemente idosa, temos muitos doentes com demência”, refere a médica, adiantando que, em termos de consultas de neurologia, “as doenças neurodegenerativas”, onde junta “a demência com a doença de Parkinson, são mais de 50% dos nossos doentes”.
A Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste faz em média, por ano, oito mil consultas de neurologia, o que exprime que o número de doentes com demência é significativo.
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Para marcar o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, (...)
O projeto Café Memória arrancou em 2013 e funciona, atualmente, em 22 locais do país. É, segundo Luís Durães, um sucesso, porque “todos os cafés que abriram continuam de portas abertas e a funcionar em pleno”.
O responsável pela rede nacional do projeto Café Memória realça ainda que as pessoas “vistam os espaços e fidelizam”, indicando que nestes sete anos de atividade, o número de participantes ultrapassa os três mil.
“[As pessoas] levam muito daqui para as suas vidas, através de uma ajuda que é tão pequena. Com pouco fazemos muito e cada um dá alguma coisa diferente”, observa, sublinhando que também em Mirandela “há um conjunto enorme de parceiros” e que “cada um dá uma pequena parte” e, todos juntos, vão fazer com que, de forma “gratuita, frequente e segura, as pessoas tenham agora uma resposta que até à data não tinham”.
“Às vezes só me apetece gritar. É uma impotência muito grande”
É precisamente essa ajuda que espera Maria da Conceição que cuida da mãe, a quem foi diagnosticado Alzheimer há cerca de dois anos.
“Às vezes não sei lidar com a minha mãe. Ela não me conhece. Recusa-se a comer. Pode ser que naquele espaço encontre soluções para contornar a situação”, confidencia à Renascença, acrescentando que “não é fácil lidar com um familiar que amamos e que não nos conhece”.
“Às vezes só me apetece gritar. É uma impotência muito grande”, desabafa Conceição de 47 anos.
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Mirandela já tinha um Gabinete de Apoio à Doença de Alzheimer e conta, a partir de novembro, com o Café Memória. Um projeto que a presidente da autarquia, Júlia Rodrigues, justifica pelos “muitos casos de isolamento” no concelho.
“Estes casos de demência ainda geram mais isolamento. E o município e também muitos aderentes, empresas e instituições de Mirandela, associaram-se a este projeto por uma questão social, de solidariedade, para apoiar estes doentes e os cuidadores”, realça a autarca.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), que apresentou em maio um guia para prevenir a doença, os casos de demência (perda de funções cognitivas com a idade) poderão triplicar até 152 milhões em todo o mundo, em 2050.
Num relatório sobre a demência publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em junho de 2018, Portugal aparece como o 4º país com mais casos, cerca de 160 mil pessoas. De acordo com o mesmo relatório, prevê-se que em 2037 Portugal suba para terceiro.