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“Housing first” quer dar casa aos sem-abrigo de Leiria

13 nov, 2019 - 11:26 • Teresa Paula Costa

Projeto “Housing first” da “InPulsar - Associação para o Desenvolvimento Comunitário” identificou 16 pessoas que vivem na rua.

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Em Leiria está identificada a existência de 16 sem-abrigo, mas, até ao fim do ano, apenas quatro vão ter uma casa onde morar. A meta é traçada com a ajuda do projeto “Housing first” da “InPulsar - Associação para o Desenvolvimento Comunitário”.

A “Inpulsar” inspirou-se numa iniciativa semelhante desenvolvida nos Estados Unidos que alcançou uma taxa de sucesso de 90-95% e que, segundo o presidente da direção, Miguel Xavier, “visa tirar os sem-abrigo das ruas, dando-lhes uma casa”.

É um “projeto-piloto” desenvolvido em parceria com a Câmara de Leiria e com a União de freguesias de Leiria, Barreira, Pousos e Cortes, que nasce na sequência do trabalho que as equipas “Giros na Rua”, da mesma associação, têm vindo a fazer junto da população sem abrigo e toxicodependente.

Neste momento, do conjunto de 16 sem-abrigo identificados em Leiria, estão já selecionados os quatro primeiros beneficiários da medida que poderão, ainda este ano, receber uma casa. A autarquia financiará os custos com três utentes, enquanto que a União de freguesias de Leiria, Barreira, Pousos e Cortes garantirá os custos com o quarto utente.

“Vamos começar com quatro, perceber as dificuldades, ver como decorre a negociação com os sem abrigo, a dinâmica de eles se manterem em casa e, evidentemente, se funcionar, será para continuar e aumentar o número de beneficiados”, esclarece Miguel Xavier, em entrevista à Renascença.

Uma casa transforma a vida

Para os autores do projeto, o facto de terem um teto poderá ser o ponto de partida para uma mudança radical de vida. Estudos efetuados demonstraram que o facto destas pessoas terem uma casa “tem um efeito poderoso” na sua vida, disse à Renascença Irene Tereso, coordenadora do “Giros na Rua”.

A psicóloga lembra que “quando se diz que estas pessoas não têm regras, não têm hábitos, não querem conviver, isso não é, nem foi uma escolha consciente nalgum momento na vida delas”, mas “aconteceu por questões muito complexas, quer de história de vida, quer de problemas desde a infância, alguns exacerbados por perturbação mental”.

Por isso, o essencial é “primeiro dar-lhes uma casa, e com isso o expectável é que ao longo de semanas e meses se veja uma transformação”.

Importante, acrescenta Irene Tereso, é também que “quando as pessoas estiverem preparadas” tenham ao seu dispor “técnicos com a informação necessária para os poderem acompanhar a dar o passo seguinte”.

Até lá, o caminho também não é fácil, pois “sabemos que há relatos de pessoas que não conseguem dormir na cama durante bastante tempo, de pessoas que não conseguem, numa fase inicial, ultrapassar bem as noites sozinhas fechadas dentro de uma casa” e isto são desafios a ultrapassar, mas “se forem criadas estas condições de habitação, acreditamos que a mudança vai surgir.”

O presidente da direção da “Inpulsar” reforça também que “quem vive há 15 anos na rua tem determinados hábitos e se nos é difícil a adaptação quando mudamos de casa ou vamos para outro país, mais difícil se torna a quem está há 15 anos na rua”.

Acompanhamento permanente

Ao dispor dos beneficiários 24 horas por dia, sete dias por semana, estará uma equipa de técnicos da associação, “numa fase inicial de acolhimento e integração, sempre disponível telefonicamente.” Tal acompanhamento “dará confiança tanto ao proprietário como às pessoas que vivem no prédio”, salienta Miguel Xavier, que diz acreditar que “Leiria é uma cidade que olha para este problema e não tapa os olhos, ou seja, tem vontade de o modificar e de o resolver.”

Quanto à possível futura integração no mercado de trabalho, ela “terá de fazer parte de um plano individual de cada um até porque, se calhar, não estamos a falar de pessoas que estejam em idade ou condições de trabalhar”, explica a psicóloga Irene Tereso.

Por enquanto, “o ‘Housing first’ pretende criar esta condição de habitação, na expetativa de que ela [a pessoa] adquira também a sua auto estima, e a capacidade de se recolocar socialmente e de poder usufruir dos seus direitos e deveres enquanto cidadão.”

Privados podem colaborar

Apesar do financiamento dos custos iniciais estar assegurado, toda a solidariedade que os privados manifestem será bem-vinda. Segundo Irene Tereso “para além do financiamento que vamos ter, vamos precisar de equipar estas casas com almofadas, edredons, utensílios e têxtil de cozinha, pratos, talheres e copos, material pequeno, mas que é essencial para o dia a dia de uma casa”, por isso “seria muito bonito podermos contar com a sociedade civil.”

Quem estiver interessado em colaborar, poderá contactar a associação pelos meios indicados na página de internet da Inpulsar.

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