16 nov, 2019 - 15:43 • Ana Carrilho
Os constrangimentos ao funcionamento normal do Aeroporto da Madeira devido aos ventos fortes e que obrigam frequentemente ao desvio de voos é um dos temas que tem atravessado boa parte das intervenções do Congresso da APAVT – Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo, que decorre este fim-de-semana no Funchal. Capacidade hoteleira e taxas turísticas também são tema de discussão.
Vários oradores e participantes defenderam a necessidade urgente de um plano de contingência para o Aeroporto da Madeira, sob pena de alguns operadores turísticos e companhias aéreas passarem a preferir destinos sem estes problemas. Assim todos perdem, a começar pelo turismo da Região Autónoma.
“Temos que resolver a questão do Aeroporto da Madeira, é uma questão nacional e não regional. No último ano foram desviados cerca de 900 voos, devido às condições climatéricas. Os operadores já se questionam e isto traz enormes prejuízos para a Região”. Foi assim que Duarte Correia, operador turístico na área da distribuição resumiu o coro de preocupações que se tem ouvido desde do início do Congresso da APAVT, que decorre desde 5ª feira no Funchal.
Para o operador turístico, é “urgentíssimo criar um Plano de Contingência que resolva este problema”.
Já na intervenção de abertura, o presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira tinha referido a “inoperacionalidade aeroportuária que vem matando a confiança dos players e vem afastando lenta mas inexoravelmente, os aviões da pista”.
Apesar de reconhecer que nem tudo corre bem, o Secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira, Eduardo Jesus garantiu que há um Plano de Contingência, “que até foi acionado para o Congresso”. Este ano, “só 1,7% dos voos foram afetados, menos de metade dos registados em 2018. Eu queria que fosse zero, mas é um problema cíclico”, rematou Eduardo Jesus.
Princípio da Continuidade Territorial, solução para trazer mais portugueses para a Madeira
A Estratégia de futuro para o turismo madeirense também passa por atrair mais portugueses, fomentando o turismo interno. Essa é uma das prioridades afirmadas pelo Presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque “porque há muitos nacionais que não conhecem a Madeira e porque ajuda a compensar as quebras no turismo de mercado estrangeiros, nomeadamente depois da falência de várias companhias aéreas” (nove delas afetaram a Madeira). O problema, por vezes, é o preço das viagens de avião para a Região Autónoma.
Esta manhã, o orador André Barreto propôs a aplicação do Princípio da Continuidade Territorial porque, na sua opinião, não se pode pensar apenas nos madeirenses que vão ao Continente, é preciso pensar no país como um todo. “Um cidadão de Beja paga menos portagem para lá chegar do que um nascido em Lisboa?”, referiu como exemplo para explicar a sua proposta.
O economista e empresário propôs a abertura de um concurso público para a aquisição do serviço de transporte junto das companhias aéreas interessadas na Linha. Seria um determinado número de viagens, tendo em conta o histórico e cada horário seria negociado separadamente porque a procura e os custos são diferentes. Poderia assim abranger um número mais elevado de pessoas que pagariam muito menos para vir à Madeira. E segundo André Barreto, o valor das compensações tenderia para zero. “Se no concurso público a viagem ficasse nos anunciados 100 euros, referidos pelo presidente da TAP, seria esse o valor a cobrar ao cliente final”.
Madeira já tem camas que cheguem?
O Plano Estratégico para o Turismo na Madeira prevê o aumento da capacidade hoteleira até 40 mil camas, que ainda não foi atingido, referiu esta manhã o Secretário Regional de Turismo. Entre 2002 e 2019, o número de camas na hotelaria aumentou, em média 1,5% por ano. Mas não conta com o Alojamento Local, em que se tem registado um aumento significativo.
Por isso, foram vários oradores que referiram a necessidade de travar o crescimento. André Barreto propôs um limite anual de 2%, em todo o tipo de alojamento turístico. Por enquanto, a Madeira ainda é um nicho de mercado mas Gabriel Gonçalves, presidente da Mesa da Assembleia Geral das Agências de Viagens da Câmara de Comércio e Indústria do Funchal chamou a atenção para o “perigo” da massificação. Com maior oferta de camas do que a procura, os preços baixam consideravelmente, pondo em causa a rentabilidade. “Se nos pomos a jeito, elas (as massas) entram mesmo, como aconteceu no tempo da crise de 2009-2010. Não podemos cometer o mesmo erro de outras regiões, como o Algarve”. Por isso, vários participantes no Congresso da APAVT, defenderam que esta é a altura de travar o aumento da capacidade hoteleira e dar ainda mais valor ao produto e às experiências, atraindo turistas com poder de compra mais elevado.
Taxa turística: sim ou não. Governo Regional vai estudar
Uma taxa turística regional (e não municipal) foi a opção que reuniu maior consenso entre os que defendem a sua existência. “Porque pode existir sem prejudicar o turismo, antes pelo contrário. Há muitos casos de sucesso e em que não serve para fazer rotundas, referiu o presidente da APAVT, com alguma ironia.
André Barreto tem outra alternativa, através do princípio do utilizador pagador. E deu como exemplos o pagamento para fazer as levadas, ir aos miradouros ou usufruir dos recursos naturais. Defende que se se oferece tudo, “estamos a perder a capacidade de valorizar os nossos recursos”.
Da parte do Governo Regional não há uma decisão. Eduardo Jesus reafirmou que o assunto está a ser estudado e garantiu que nenhuma decisão será tomada sem ouvir e envolver o setor privado.