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Manifestação das forças de segurança

Paulo Rodrigues: “Há serviços que só funcionam por carolice dos polícias”

20 nov, 2019 - 20:41 • Celso Paiva Sol

O presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia admite que há “instabilidade interna”, “desmotivação” e “revolta” entre os operacionais, o que levou à convocação da manifestação desta quinta-feira.

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Em entrevista à Renascença, Paulo Rodrigues rejeita que o objetivo da manifestação desta quinta-feira da PSP e da GNR, em Lisboa, seja “pôr o país no caos”. Falando de falta de condições, o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia – atualmente com 47 anos e no cargo desde 2006 – garante que é a carolice dos profissionais que impede várias esquadras de encerrar e diz que o temido Movimento Zero irá dissolver-se assim que o Governo comece a dar resposta às reivindicações.

Por que é que convocaram esta manifestação ?

Nos últimos quatro anos fomos ouvindo promessas de que seria resolvido um conjunto de questões, que desse aos polícias perspetivas de carreira. Passado esse tempo, continuamos sem ter atualização dos vencimentos, atualizações dos suplementos remuneratórios e a reorganização que queríamos ao nível das promoções. Continuamos sem ter o subsídio de risco – que até foi aprovado pela Assembleia da República – e as condições de trabalho também não se alteraram; pelo contrário, nalguns casos até se agravaram.

Como os problemas são semelhantes na GNR, entendemos avançar para a manifestação. Não podemos esquecer que o primeiro-ministro é o mesmo, que o ministro da Administração Interna é o mesmo e, portanto, é o momento de concretizar. Não podemos continuar mais quatro anos a dizer que vamos fazer alguma coisa.

O ministro da Administração Interna recebeu-vos a semana passada e, no final dessa reunião, garantiu que vai retomar alguns destes processos negociais.

Nessa reunião não ficou nada definido em relação à concretização. O que ficou definido foi programar um conjunto de reuniões no sentido de resolver essas questões. A verdade é que depois da reunião tínhamos tanto como antes e por isso decidimos manter a manifestação.

O que está em causa não são só as condições socioprofissionais dos polícias, o que está em causa é a capacidade de resposta da polícia para resolver os problemas dos cidadãos e as questões de segurança pública. Há serviços na polícia que só funcionam por carolice dos polícias, porque se cumprissem exatamente os horários de trabalho e tudo aquilo que está na lei provavelmente já tinham parado há muito tempo e há esquadras que já tinham encerrado.

É isto que o Governo teima em não perceber. Parece que está à espera que os polícias sigam esse caminho para perceber. Esta manifestação, e espero que não se tenham que organizar muitas outras, é no fundo a revolta toda que se está a avolumar no seio da polícia. Neste momento há instabilidade interna e um conjunto de questões que todos os dias minam o trabalho da polícia, porque há desmotivação, revolta e uma grande indignação com isto tudo.

O protesto está rodeado de alguma tensão, sobretudo por causa da presença do Movimento Zero e de eventuais infiltrações de cariz político ou partidário. Há razões para alarme?

É evidente que cada vez mais os polícias estão impacientes, mas não acredito que esta manifestação seja para pôr o país no caos. Somos polícias, é isto que temos dito, temos a obrigação de cumprir com aquela que é a nossa missão. Não devemos ser nós a pôr em causa o trabalho dos nossos colegas e a ordem pública, o que queremos é que esta manifestação tenha a sua força pelo número de presenças e não pelos atos que possam pôr em causa a segurança pública.

O Movimento Zero, basicamente, são todos os polícias e todos os militares da GNR. O movimento nasce da falta de respostas do Governo: quando os sindicatos batalham e tentam de forma moderada e organizada desenvolver ações de alerta ao poder político e são completamente menosprezados, alguns polícias e elementos da GNR criaram uma rede onde começaram a desabafar. Tudo começou por aí.

Porém, é fácil minimizar esse movimento, basta que o Governo comece a dar respostas aos grandes problemas. Se fizer isso, o Movimento Zero só por si deixa de fazer sentido.

E os partidos, fala-se no apoio da direita ou da extrema-direita...

O que nós queremos é defender os direitos dos polícias, isso é muito claro, e aproveitamos para apelar a todos os deputados, sejam da direita, do centro ou da esquerda, que nos deixem fazer o nosso trabalho, que esta manifestação atinja os seus objetivos.

Ao não interferirem, estarão a ajudar os polícias a cumprir os seus objetivos. Esta é uma manifestação dos profissionais da PSP e da GNR, dos familiares e de quem queira estar por bem. Quem estiver por bem e ajudar os polícias é bem vindo, quem queira utilizar esta manifestação para outros fins não é bem-vindo.

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