14 jan, 2020 - 15:38 • André Rodrigues
Chuva na sala de aula, alunos que levam mantas e aquecedores. É apenas uma parte dos problemas da Escola Secundária Daniel Faria, em Baltar, no concelho de Paredes. Os alunos falam de insegurança recorrente, com relatos de confrontos com armas brancas e, até, episódios de venda e consumo de drogas.
"A escola é demasiado pequena para tantos problemas". O desabafo é de Pedro Barbosa, representante dos alunos no Conselho Geral da Escola Secundária Daniel Faria.
O inventário de problemas apontado por este aluno do 12.º ano é longo, "começando pelo fibrocimento, que ainda não foi removido, extintores cuja validade passou há vários anos até à degradação de várias estruturas", que torna penosa a permanência nas salas de aula, sobretudo nos dias mais frios de inverno.
"São os alunos que costumam levar mantas e alguns aquecedores para as salas, para não custar tanto a passar o tempo letivo. Os professores, inclusive, facilitam-nos a vida e dizem-nos para não escrever, porque torna-se impossível", descreve.
Nos dias mais frios, as temperaturas de manhã cedo não chegam aos zero graus. E quando chove, a água também chega às salas.
"Uma vez estava a fazer um teste e caiu-me uma pinga que molhou o teste inteiro", Eliana Magalhães, aluna do 11.º ano."
“Eu disse às funcionárias que sabiam perfeitamente o que estava a acontecer, mas não se fez nada", diz.
A falta de conforto nas salas de aula é apenas uma das muitas queixas dos alunos desta escola de Baltar.
Outro problema recorrente é a insegurança. Eliana diz que já presenciou "confrontos com armas brancas, uma vez dois alunos estavam à luta e um deles puxou um canivete e ameaçou o outro".
Um ambiente que gera um sentimento generalizado de receio entre os alunos, "principalmente entre os mais novos, uma vez que temos aqui crianças a partir do sétimo ano".
Eliana é aluna da Secundária Daniel Faria há seis anos e garante que "nunca tinha experienciado situações como estas".
Ultimamente as agressões com armas brancas têm-se tornado mais frequentes, "mas a droga sempre foi algo normal aqui", admite.
Tão normal quanto as visitas frequentes, tanto das autoridades como do INEM.
"Já chegámos ao cúmulo de termos a ambulância do INEM dos Bombeiros de Baltar e o carro patrulha da GNR aqui à porta da escola quase todos os dias", lamenta Pedro Barbosa.
Cenário que não deixa os pais indiferentes. Lia Sousa, um dos elementos da Associação de Pais, entende que "há algumas brincadeiras entre crianças que podem ser mediadas, tanto por funcionários como por professores".
"O problema é quando não há funcionários em número suficiente", contrapõe a aluna Eliana Magalhães.
Muitas vezes a violência que começa dentro da escola passa para fora. Lia Sousa admite que "as agressões acontecem em todo o lado, seja entre alunos, de alunos contra professores, de pais contra professores.
Confrontada com a situação, a direção da escola nada diz. Lia Sousa espera "que seja possível estreitar a comunicação entre o diretor e os pais".
Já Pedro Barbosa, representante dos alunos no Conselho Geral, não é tão otimista, porque "prefere esconder para o exterior aquilo que se passa cá dentro".
A Renascença também tentou obter esclarecimentos junto da escola Secundária Daniel Faria, sem sucesso.
Durante toda esta semana, inspetores da Direção-Geral de Educação vão reunir-se com alunos, pais, professores e direção.
Só depois, eventualmente, poderá haver uma explicação por parte da escola.