28 jan, 2020 - 00:52 • Ana Carrilho
O antigo presidente da Câmara de Lisboa, que chegou a Presidente da República, defende que é preciso pensar Lisboa num horizonte de 20 a 30 anos.
Na homenagem que diversas entidades lhe fizeram esta segunda-feira, para assinalar os 30 anos de eleição autárquica e da elaboração do moderno Plano Estratégico para Lisboa, Jorge Sampaio deixou “uma sugestão, convite, alerta”.
E justificou: “com a aceleração do tempo e o tropel de desafios que enfrentamos, com a transição demográfica, digital e energética a rondar e as alterações climáticas já bem patentes, importa pensar Lisboa no horizonte 20-30 anos. Importa articular uma visão e um plano estratégico para Lisboa 2050. Cabe planear as mudanças que urge fazer para sabermos responder aos desafios que se perfilam e que são de natureza estruturante, na quádrupla dimensão da sustentabilidade económica, social, ambiental e cultural”.
O antigo presidente, eleito para a câmara da capital à frente da Coligação “Por Lisboa”, em 1989, mostra-se seguro que agora tudo é mais fácil do que naquela altura: “nunca Lisboa e o país, em geral, estiveram tão bem preparados e apetrechados para realizar esta tarefa, com talentos, competências e saberes disponíveis mais sólidos e alargados”.
Por outro lado, lembrou que, atualmente há, da parte dos munícipes, “maior apetência por uma participação ativa nas decisões locais que influenciam diretamente as suas vidas, o que é positivo e urge potenciar”.
Mas com uma participação mais alargada, a diversidade de opiniões também é maior.” Daí que continue a ser fulcral a pedagogia da formação de consensos”.
O Plano Estratégico para Lisboa, elaborado em 1989 pela equipa de autárquica de Sampaio, apostou na transformação de Lisboa na “capital atlântica da Europa”.
Uma das prioridades foi a eliminação das dezenas de bairros de barracas e a construção de 11 mil fogos de habitação social. Mas também a modernização da cidade e a reabilitação de espaços até aí abandonados, como a zona Oriental. A Capital Europeia em 1994 e a Expo 98 acabaram por também dar um “empurrão” ao plano.
Sampaio, Marcelo, Medina e Costa: Lisboa é a autarquia que os une
O grande adversário de Jorge Sampaio nas autárquicas de 1989 foi Marcelo Rebelo de Sousa, que concorreu pelo PSD. Derrotado, manteve-se, ainda assim, como vereador, até 1993.
Hoje Presidente da República, também ele prestou homenagem a Sampaio, lembrando os primeiros passos do Plano Estratégico – elaborado pelo urbanista Fonseca Ferreira, falecido o a no passado.
“Jorge Sampaio personificou a nova Lisboa, depois de um longo consulado de Kruz Abecasis. Incansável, determinado, desmentindo os que o viam como intelectual, mas não realista. Olhou para o contexto internacional, nacional e urbano, para o envelhecimento da população e para esvaziamento da cidade, sobretudo da Baixa, depois do incêndio do Chiado”.
Marcelo lembrou que passaram “dias, semanas, meses, dentro e fora da Câmara, a debater o essencial” e agradeceu a Jorge Sampaio a experiência que teve na Câmara de Lisboa.
Também o primeiro-ministro, António Costa, já foi presidente da autarquia lisboeta e na homenagem que fez a Sampaio lembrou alguns pontos desse Plano Estratégico que mudaram a vida na cidade: a erradicação das barracas (“a última foi derrubada já no tempo da presidência de João Soares”), a construção do Eixo Norte-Sul (para ligar o norte e o sul da Área Metropolitana), a Capital da Cultura, a Expo 98, a Fundação da Associação de Turismo até às Festas de Lisboa, que deixaram de ser “só marchas e assumiram dimensão internacional”.
Considerando que o mandato de 1989 foi absolutamente decisivo, António Costa sublinhou que as cidades se constroem ao longo de décadas e “muito do que se ainda hoje a fazer tem a ver com que consta desse plano”. Por exemplo, “passámos de uma ideia para uma realidade, Lisboa Capital verde da Europa. E passaram 30 anos”.
A propósito, o atual presidente da autarquia, Fernando Medina, fez questão de entregar a Jorge Sampaio “o símbolo do futuro de Lisboa”, Capital Verde.
“Dignidade” foi a palavra que Fernando Medina escolheu para definir Jorge Sampaio. Mas lembrou também muitas das ideias. Por exemplo, as empresas de transporte na posse da câmara ou tarifas sociais para os passes, de forma a fomentar o uso de transporte público. O autarca socialista considera que foi “um período marcante pela obra e pelo que nos deixa para a cidade”.