28 jan, 2020 - 21:18 • Lusa
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O ex-chefe de gabinete do ex-ministro da Defesa disse esta terça-feira em tribunal que falou com Azeredo Lopes sobre o memorando e a fita do tempo do caso do furto de armas de Tancos, mas não se lembra se lhe entregou documentos.
O tenente-general Martins Pereira, atual Comandante das Forças Terrestres das forças armadas portuguesas, foi ouvido como testemunha arrolada pelo arguido ex-ministro Azeredo Lopes na fase de instrução do processo do furto e recuperação do armamento de guerra dos paióis de Tancos em 2017.
Martins Pereira "confirmou que recebeu dois documentos, o memorando e a fita do tempo, não se recorda se os entregou ao ministro, mas lembra-se que falou deles", disse o advogado do antigo ministro, Germano Marques da Silva, aos jornalistas após mais de quatro horas de inquirição da testemunha.
Em relação ao teor dos dois documentos, disse que "a testemunha, na altura, fez a sua interpretação, e que não lhe ligou importância nenhuma".
O memorando, acrescentou o defensor de Azeredo Lopes, era, segundo a testemunha, "apenas uma referência em como havia um conflito entre a Polícia Judiciária Militar e a Polícia Judiciária".
Sobre a recuperação das armas, que o Ministério Público (MP) diz ter sido encenada pela Polícia Judiciária Militar com a ajuda da GNR, a testemunha disse, citada pelo advogado, que desconhecia "se havia alguma história por trás".
Afirmação do ex-ministro da Defesa consta do inter(...)
No final, Germano Marques da Silva afirmou ter ficado "muito satisfeito com o depoimento" do tenente-general, que este foi "muito proveitoso", mas lembrou que "a apreciação do depoimento é feita pelo juiz".
"Havia muita coisa para lhe perguntar sobre toda a acusação. Muita coisa que não lhe foi perguntada na fase de inquérito e como a testemunha estava indicada para toda a acusação demorou muito tempo", acrescentou.
O antigo chefe de gabinete do ex-ministro da Defesa já tinha sido ouvido como testemunha no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) a 24 de outubro de 2018.
Num comunicado enviado à Lusa, em 04 de outubro de 2018, após ter sido tornado público pela imprensa que o armamento de Tancos tinha sido recuperado através de uma encenação da PJM, em conivência com o alegado autor do furto [João Paulino] e a GNR de Loulé, Martins Pereira admite ter recebido o coronel Luís Vieira, diretor da PJM à data dos factos e o major Vasco Brazão, então porta-voz da PJM, ambos arguidos, mas nega ter percebido qualquer "indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos".
Alguns dias depois, o tenente-general disse que o seu advogado entregou no DCIAP um documento sobre a operação de recuperação do material de Tancos que lhe terá sido entregue por Luís Vieira e Vasco Brazão, numa reunião no seu gabinete.
Em 12 de outubro, Azeredo Lopes demitiu-se do cargo de ministro da Defesa, para evitar que as Forças Armadas sejam "desgastadas pelo ataque político".
Para sexta-feira está marcada a inquirição de Paulo Lemos, conhecido como 'Fechaduras', que deixou de ser arguido no processo depois do MP ter considerado que, apesar de ter dado "informações essenciais" a João Paulino, arrependeu-se do que fez e colaborou nas investigações, dando informações à PJ.
O processo conta com 23 arguidos, nove dos quais são acusados de planear e executar o furto do armamento e os restantes 14, entre eles Azeredo Lopes, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento militar.
Em causa estão crimes como terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.