11 fev, 2020 - 16:39 • Marta Grosso
Os portugueses recorrem cada vez mais ao 112, mas, em muitos casos, tal não se justificaria. Na maior parte das vezes, é por falta de informação e desorientação face ao problema que tem em mãos, diz Teresa Brandão, médica responsável pela Delegação Regional do Sul do INEM.
“As pessoas não têm, às vezes, noção daquilo que é emergente ou não. Falta de informação. Depois, é mais fácil ligar para o 112 e ter uma ambulância, porque se ligarem para os bombeiros ou forem por outros meios, pensam que é mais difícil entrar numa urgência hospitalar. Se forem com uma ambulância do INEM pensam que passam à frente, o que não é verdade”, aponta a responsável na Renascença.
Além disso, acrescenta, “quando são transportadas pelo INEM, não pagam taxas moderadoras” e isso “pode ser [um fator] importante”.
Todos os dias, são feitas 20 a 25 mil chamadas para o 112 – dá uma média a rondar os mil telefonemas por hora para os centros operacionais a funcionar no continente e nas ilhas e onde é feita a triagem dos casos e o posterior encaminhamento para o devido serviço.
O problema é que muitas destas chamadas são falsas urgências, mas Teresa Brandão diz que o número está a diminuir.
“Não conseguimos muitas vezes identificar se a chamada é falsa ou não. Temos uma média de cerca de 5% que são falsas emergências e que são transferidas para o SNS 24; as outras são sempre meios que são enviados e desperdiçados às vezes, porque as pessoas já nem sequer se encontram no local”, refere.
Os quatro helicópteros do INEM foram acionados par(...)
Convidada do programa As Três da Manhã nesta terça-feira, a responsável do INEM sublinha a importância de as pessoas responderem “às perguntas que são feitas cada vez que há uma chamada para o CODU – o Centro de Orientação de Doentes Urgentes – através do 112 ou da Saúde 24”.
“Qualquer profissional faz perguntas que devem ser respondidas para saber se é necessário enviar meio ou não é preciso enviar meio e pode ser tratada pelo SNS 24”, afirma.
Mas como saber se o meu caso é suficientemente grave para ligar para o 112? “Na dúvida, ligue”, diz Teresa Brandão.
“A chamada vai para a polícia e posteriormente para o Centro de Orientação de Doentes, onde é atendido por um operador com formação específica”, explica. Nessa altura, é responder a todas as perguntas.
É por paixão que médicos e enfermeiros decidem trabalhar no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), garante Teresa Brandão.
“O INEM é um local, uma instituição de paixão e as pessoas que estão lá, estão por paixão”, afirma, dando o seu exemplo: “sou médica de medicina geral e familiar e optei por estar a tempo inteiro no INEM há cerca de oito anos”.
É esta paixão que permite contornar os problemas resultantes da falta de meios. Por exemplo, a renovação tão necessária das ambulâncias, que está a ser feita “ao ritmo que é possível”.
“Neste momento, estão a ser renovadas – e foram já muitas, mais de 150 – ambulâncias dos nossos parceiros do Sistema Integrado de Emergência Médica (bombeiros e Cruz Vermelha) e, posteriormente, serão as nossas mesmas, do INEM, a ser renovadas, mas são ambulâncias com sete/oito anos com bastantes quilómetros”, avança a responsável pela delegação do Sul.
Quanto à impossibilidade de os helicópteros aterrarem nos hospitais durante a noite, a médica reconhece que “é uma preocupação acrescida” e adianta que, no que toca ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa, o assunto está a ser estudado.
Em alguns casos, sublinha Teresa Brandão, “pode ser a diferença entre a vida e a morte”. Para colmatar essa dificuldade, “quando é uma situação grave, é enviada alguma equipa mais diferenciada para acompanhar o doente, embora a equipa que esteja no helicóptero já seja diferenciada e possa acompanhar o doente, mas às vezes, se é mais do que um, pode ser necessário o envio de uma viatura médica ao local”.
O processo tem vindo “a ser afinado”, mas está a decorrer. “Temos um circuito organizado, muito curto neste momento, porque não casos de coronavírus, só casos suspeitos”, diz a médica responsável do INEM.
Quando existe um caso suspeito, tem de ser validado e depois “vai uma equipa diferenciada do INEM fazer o transporte a uma unidade hospitalar de referência – que aqui [Lisboa] é o Hospital Curry Cabral”.
Os elementos desta equipa “têm equipamento próprio e formação específica” sobre este novo vírus.
Quanto a meios, “neste momento, já existem quatro ambulâncias – Lisboa, Porto, Coimbra e Faro – para poder fazer o transporte” e vão ser colocadas outras noutras zonas, adianta Teresa Brandão na Renascença.