17 fev, 2020 - 17:00 • Redação
O presidente da Associação Sindical de Profissionais de Polícia (ASPP/PSP), Paulo Rodrigues, diz à Renascença que a polícia recebe indicações para não atuar em situações de cânticos e atitudes racistas nos estádios.
"Quando as próprias entidades que dão as diretivas à polícia preferem que não haja intervenção se houver um cântico racista no meio de uma bancada... Uma intervenção da polícia traz outro tipo de problemas", diz o presidente da ASPP/PSP.
Paulo Rodrigues questiona: "Será que a polícia não tem identificado [autores de cânticos racistas]. Se calhar, tem. Mas, e acima? Será que tem havido resposta concreta? Quando as pessoas deviam ser punidas, levam apenas contraordenações. Assim, há um sentimento de impunidade."
O presidente da ASPP/PSP defende que, nestas circunstâncias, Governo, Assembleia da República e tribunais têm responsabilidades no que se está a passar no futebol português: "Nós temos alertado, desde há anos, que o espaço do futebol deixou de ser um espaço de desportivismo e de festa e, durante anos, as várias entidades foram assobiando para o lado."
"A violência é desvalorizada por ser no âmbito do futebol", continua Paulo Rodrigues, reforçando: "Tudo o que se tem passado nos estádios, desde agressões a ameaças e a insultos, sejam racistas ou não, têm sido sempre desvalorizados pelas várias entidades responsáveis:"
"Os polícias já fizeram detenções por razões de insultos e, quando chegam a tribunal, os casos são completamente desvalorizados. Os polícias acabam por sentir que não vale a pena estar a fazer detenções para ir a tribunal e saírem de lá humilhados."
Para o presidente da ASPP/PSP, "vários ministros da Administração Interna e vários deputados nunca quiseram tomar grandes medidas para resolver estas questões".
"Hoje, vi entidades a lamentar o sucedido. Muitos deles [dos seus representantes] estiveram em posições em que podiam alterar as coisas e nada fizeram. Limitaram-se a ir ver jogos de futebol a convite de presidentes O 'lobby' do futebol é muito forte a ponto de condicionar a política", acusa.
Paulo Rodrigues considera que neste caso mais recente e de grande impacto, "a única novidade é o facto de Marega ter, de forma corajosa, abandonado o jogo, deixando bem claro as razões que levaram a fazê-lo", porque "o resto não é novidade, estas situações não são novidade".
"É de louvar a atitude de Marega", remata o presidente da ASPP/PSP.