28 fev, 2020 - 11:01 • João Cunha , Beatriz Lopes
Fernanda Rusconi e Sofia Campos vivem na zona de Milão, uma das regiões italianas mais afetadas pelo surto de Covid-19. À Renascença, desdramatizam a situação e contam como se vive com as restrições impostas pelas autoridades.
“Estou quase há uma semana a trabalhar a partir de casa e isso acaba por ser estranho, porque não estou habituada a não ver os meus colegas, a não ter as minhas reuniões, a não ir almoçar com as pessoas que conheço”, diz Sofia Campos, a viver em Milão há seis anos.
“Estou à espera que a situação fique mais controlada e possa voltar ao meu dia-a-dia normal”, acrescenta esperançosa.
Nenhuma das três portuguesas com quem a Renascença falou se mostrou preocupada com a situação.
“Isto é um pânico por não raciocinar sobre as coisas; não dar às coisas o peso justo, o peso certo”, defende Fernanda Rusconi, que vive há 29 anos numa pequena aldeia a norte de Milão.
"O facto de não haver vacina, de não haver maneira de se defender, leva as pessoas a entrar em pânico. Porque estamos habituados a defender-nos de tudo", defende.
O facto de se sobrevalorizar a situação leva as pessoas a tomarem decisões que, na opinião de Fernanda, são incompreensíveis. Por exemplo, “convidei uma senhora que conheço e já tem uma certa idade a vir a minha casa no outro dia e ela não veio porque tinha medo do vírus. Ela mede constantemente a temperatura. É já um bocado paranoia”.
De visita a Fernanda está uma das irmãs, Lurdes Gordo, que também considera existir algum alarmismo em relação ao coronavírus em Itália. Para já, o que espera é conseguir regressar a Portugal na próxima semana.
Mas desdramatiza. "Se não conseguir ir embora, também não é assim uma catástrofe, porque estou em casa de família. Se estivesse em viagem, era mais complicado, ter de cá ficar".
Lurdes adianta que quando chegou a Itália, já foi alvo de medidas de prevenção. "Quando eu entrei, verificaram-nos a febre, mas no aeroporto de Lisboa não vi nada disso".
Chegando a Portugal, já sabe o que fazer: segundo notícias que “já ouviu”, quem chegue “de Itália – sobretudo da Lombardia – logo que tenha algumas suspeitas, que tente não socializar muito”.
Explicador
A Organização Mundial de Saúde considera que lavar(...)
A Direção-Geral da Saúde (DGS) aconselha que, durante 14 dias após a chegada a Portugal, quem tenha estado em destinos considerados de risco esteja atento ao aparecimento de febre, tosse ou dificuldade respiratória; que meça a temperatura corporal duas vezes por dia e que contacte o SNS 24 para mais pormenores ou esclarecimento de dúvidas.
A descontração das portuguesas contrasta com o que se vê nas ruas. Sofia Campos prefere não falar em cidade deserta, para evitar alarmismos, mas admite: “estava habituada a ver uma cidade cheia de gente, cheia de turistas, com pessoas a entrar e a sair das lojas, sempre a correr. Agora é um bocadinho estranho, porque vejo uma cidade… não posso dizer 'fantasma', mas uma cidade com muito menos pessoas”.
“As lojas fecham mais cedo. Existem claramente os serviços mínimos garantidos – os bancos, os correios, as farmácias estão abertas e os supermercados também. Alguns artigos já não se conseguem encontrar nas farmácias: as máscaras e o gel desinfetante”, indica.
Aliás, as máscaras passaram a fazer parte da paisagem e os transportes públicos servem mais às moscas. Por outro lado, “vejo também pessoas que não usam a máscara e que tentam viver a vida como viviam antes”.
Sofia procura manter-se informada para “viver a vida com normalidade”.
“Temos recebido imensas informações do Estado italiano e do Ministério da Saúde, que de meia e meia hora, na televisão ou na rádio, nos dão as indicações do que devemos fazer não fazer. Por isso, sinto-me bastante informada e acaba por ajudar também a viver a situação com mais serenidade”, admite.