10 mar, 2020 - 16:51 • Inês Rocha
O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, saúda que haja finalmente um plano de contingência para conter a epidemia de coronavírus, mas diz que vem tarde.
“O plano já devia estar concluído e preparado há mais de dois meses, em vez de a senhora ministra ter ido alegremente ido em excursão receber os compatriotas que vieram da China, deviam ter estado concentrados a elaborar este plano”, acusa o sindicalista.
Roque da Cunha questiona mesmo a ministra da Saúde, Marta Temido, “se está tranquila, se dorme tranquilamente com aquilo que não andou a fazer nos últimos meses?”
Por outro lado, o médico lembra que o grande problema está na “realidade” do SNS, que não tem meios suficientes para cumprir o plano de maneira eficaz.
Entre os problemas mais graves estão a “capacidade de diagnóstico muito limitada”. “Mesmo os hospitais onde se fazem os testes ainda não estão totalmente equipados”, afirma o dirigente sindical. “Neste momento só existem dois institutos que podem fazer a confirmação. É fundamental que se alargue esta rede de diagnóstico e que este plano nacional tenha repercussões e organização a nível regional e local”, diz à Renascença.
O secretário-geral do SIM garante que a disponibilidade dos médicos para ajudar no combate ao coronavírus é total, incluindo os que trabalham no privado e os reformados.
Questionado sobre se os médicos reformados não são também uma população de risco, Roque da Cunha desvaloriza e apela a que todos os médicos sejam protegidos.
“A profissão de risco é ser médico. São os profissionais de saúde aqueles que têm maior probabilidade de apanhar a doença. Naturalmente, a idade é fator de risco acrescido. Mas os médicos estão habituados, têm é de ser protegidos”, diz o sindicalista.
“Não podemos sequer aceitar que se entenda que umas meras mascaras cirúrgicas são capazes de proteger médicos junto a fortes suspeitas de coronavírus. Tem de haver meios, já deviam estar disponíveis”, afirma.
“Faltam meios de proteção, máscaras para utentes, máscaras para forças de segurança, profissionais de saúde”, denuncia.
Sobre a possibilidade de as USF serem chamadas a responder à epidemia, o médico lembra que “é difícil” uma resposta eficaz “não havendo salas de isolamento, não havendo nas USF material de proteção e não havendo resposta na linha de apoio ao médico”.
Maria João Tiago, também dirigente do SIM, é médica de família num centro saúde da grande Lisboa. Depois de olhar para o plano de contingência, diz sentir falta de "orientações claras".
"Neste momento, estou a fazer uma atividade clínica normalíssima. Tenho a minha lista toda preenchida. Neste momento não devia estar a haver restrição de consultas?", questiona.
A médica diz estar a dar consultas programadas, de vigilância, que não são essenciais, e considera que o plano já devia prever isso. "Não devia haver um plano depois para resolver à pressa o que não se conseguiu prever", critica.
Maria João Tiago lembra que os médicos de família funcionam com listas "muito cheias", o que faz com que se reunam nas salas de espera "grávidas, idosos para vigiar a hipertensão e a diabetes". A médica lembra que é necessário haver cuidado com possíveis casos de doença aguda relacionada com o coronavírus. "O plano de contingência devia prever todos estes passos", afirma.
[Notícia atualizada às 18h25 com declarações de Maria João Tiago]