11 mar, 2020 - 09:03 • Vítor Mesquita com Redação
O primeiro-ministro garantiu todo o apoio do Estado aos portugueses que estão no estrangeiro, mas a estudante Margarida Vieira Lourenço, uma portuguesa a frequentar a Universidade de Roma ao abrigo do programa Erasmus, queixa-se da falta de apoio por parte da embaixada portuguesa.
Alguns estudantes portugueses ainda conseguiram regressar de Itália mais cedo do que estava previsto, mas com o apelo à “tranquilidade” das autoridades de saúde italianas, outros por lá foram ficando, como aconteceu com Margarida.
A estudante de Ciência Política do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) está na Universidade "La Sapienza", em Roma, há cerca de um mês, ao abrigo do programa Erasmus. Tinha bilhete de regresso para esta quarta-feira, mas depois de o Governo português ter cancelado todas as viagens de ida e volta para Itália, sente-se “perdida”.
“Mandei um e-mail ao consulado, mas eles responderam-me com um e-mail ‘tipo’ que não me ajudou. Tinha o meu voo marcado para amanhã porque para mim não fazia sentido ficar aqui com tudo fechado e sem aulas, mas parece que já fui tarde porque os voos foram todos cancelados", descreve.
"Portanto, agora não sei como é que vou sair daqui”, acrescenta.
O regresso a casa não será tanto para “fugir de um vírus”, até porque o Covid-19 também já chegou a Portugal, mas em alturas como estas, conta a portuguesa, procura-se o conforto de casa e tenta evitar-se despesas incomportáveis. A viver num quarto nos arredores da cidade de Roma, é também ao ISCTE que Margarida aponta o dedo. “Estou aqui há três semanas e eles nem sequer me deram a bolsa ainda, nem sei se me vão dar. Estou a usar os recursos financeiros da minha família e a situação está um bocadinho preocupante.”
“Sinto-me um bocado perdida agora, porque não sei como é que hei-de voltar para o meu país”, confessa.
Na China, onde o surto começou, registam-se os núm(...)
Na terça-feira, António Costa garantiu todo o apoio aos portugueses que, no estrangeiro, possam necessitar de proteção, assegurando que o Governo vai seguir o exemplo do que aconteceu nos casos de Wuhan e no cruzeiro no Japão.
Contudo, Margarida responde à letra: “Não me foi apresentada nenhuma solução, portanto não estou a sentir essa proteção”.
Entretanto, vai pensado em alternativas possíveis. “Estive agora a ver voos para ver se conseguia ir para Paris e de lá seguir para Lisboa, mas parece que está a ser tudo cancelado ou então são viagens por volta dos 300/400 euros e eu não tenho esse dinheiro. Portanto, vou ter de ficar aqui à espera”, lamenta.
A Renascença já tentou obter esclarecimentos junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e do ISCTE, mas não obteve qualquer resposta.
Até há bem pouco tempo, acreditava que as medidas decretadas pelo governo italiano transmitiam confiança de que a situação pudesse voltar rapidamente ao normal. No entanto, o cenário terá mudado nos últimos dias.
“Pelo menos até ontem parecia tudo normal. Claro que havia algumas pessoas de máscara, mas o único sítio que parecia mais caótico era o Vaticano. De resto, a cidade parecia tranquila. Só a partir de terça-feira comecei a notar que as pessoas estavam a entrar em pânico. Havia imensas filas nos supermercados, toda a gente a um metro de distância, os transportes públicos vazios, os restaurantes a fecharem cedo, uma cidade deserta”, descreve.
Itália tornou-se o caso mais grave de epidemia fora da China, com 631 mortos e mais de 10.100 contaminados pelo novo coronavírus, que pode causar infeções respiratórias como pneumonia.
França, Espanha e Alemanha têm mais de mil infetados cada. Portugal regista 41 casos confirmados de infeção, de acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS).
A epidemia de Covid-19, detetada em dezembro na China, já provocou mais de 4.300 mortos. Cerca de 119 mil pessoas foram infetadas em mais de uma centena de países, e mais de 66 mil recuperaram.