12 mar, 2020 - 13:31 • Cristina Nascimento
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Lisboa, 12 de março de 2020. Às 9h00, à porta de uma escola, tudo parece um dia normal. Pais que deixam as crianças e saem apressados para o trabalho. Mas não é um dia normal. Os estabelecimentos de ensino públicos a nível nacional continuam abertos, mas no Agrupamento das Laranjeiras, em São Domingos de Benfica, a Junta de Freguesia suspendeu as atividades extra-curriculares e a componente de apoio à família que permite que as crianças entrem mais cedo e fiquem até mais tarde.
“Hoje tem de vir buscá-la às 16h00”, avisam junto ao portão as assistentes operacionais da Escola António Nobre.
Muitos pais não entendem porque é que as escolas não fecharam e porque é que esta, em particular, está a funcionar a meio-tempo. “A gestão é difícil. Quem tem que trabalhar todos os dias, é difícil gerir a logística com metade da escola fechada”, desabafa à reportagem da Renascença Cristiano José, pai de um aluno do 1.º ano.
Aparentemente tranquila, Maria Fernanda despede-se da sua filha que anda no jardim de infância. “As pessoas estão muito assustadas, estão histéricas. Faltam coisas no mercado, não é preciso tanto, mas toda a precaução é válida”, diz esta mãe que não esconde o que gostaria que acontecesse: o fecho das escolas.
“Não adianta fechar tudo e não fechar as escolas”, diz.
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Cristiano José não revela diretamente se defende ou não o encerramento das escolas. Para ele, ponto assente é que as decisões devem ser concertadas.
“A minha opinião sobre isto é que a decisão deve ser nacional e quem deve tomar deve ser os responsáveis pela saúde. As decisões não devem ser tomadas ‘ad hoc’... Cada um está a fazer o que quer, eu não concordo com isso”, diz.
Outra mãe, Inês Furtado, alinha no mesmo tom. “Parece que estão à espera que haja algum caso na escola para poderem fechar. As nossas crianças estão um bocado em risco”, lamenta.
E se as escolas fecharem? “Não sei como nos vamos organizar. Fechando, temos de ficar em casa com eles”, garante Inês.
E se as escolas não fecharem, já pensou tirar os filhos da escola por sua iniciativa? “Pensar, pensei. Mas não é fácil, porque trabalhamos, não podemos deixar o trabalho”, lamenta Inês Furtado, apressando-se a sair da escola.
Neste ponto, Cristiano José não está de acordo. “Por minha iniciativa não. Deve ser uma decisão da Direção-Geral de Saúde e deve ser uma decisão nacional e concertada”, insiste.
Meia hora depois do toque de entrada já não se vê ninguém à porta da escola. A vida segue a sua aparente normalidade, à espera do que vai decidir o Governo ou de um caso confirmado de coronavírus.